A estrada da vida pode ser comparada a uma mochila que contém tudo o que se realiza.
Existe aquele aprendiz Maçom vitalício que, para não deixar ninguém ver os seus erros, ainda não é sábio o suficiente para deixar pelo caminho as lascas que arrancou da pedra bruta com muito esmero e força; o seu medo em deixar transparecer a sua condição humana imperfeita aos outros leva-o a colocar tais detritos escondidos dentro da sua mochila da vida e passa a carregar aquelas nódoas consigo ao longo da jornada.
Se não treinar o perdoar, este saco de viagem vai ficar cada vez mais pesado.
Porque aprender a perdoar é perseverar num treino mental. É um grande e difícil passo.
É tirar alguma coisa que incomoda; pode ser algo que se fez ou que outros fizeram.
O eterno aprendiz deve buscar a habilidade mental de constantemente fazer uma reorganização na sua mochila da vida.
Periodicamente deve tirar tudo de dentro dela e só recolocar o que se presta para uma viagem leve e tranquila.
Fazer um verdadeiro “5S” da Qualidade Total. Denodadamente, ir organizando-a de tal forma a aliviar o seu peso e tornar a vida leve e solta.
Não colocar dentro dela, em hipótese alguma e sob nenhum pretexto: ressentimento; desgosto; raiva; ou decepção.
Isto culminará na obtenção de facilidades na sua caminhada, na constante subida e descida das rampas de dificuldades com que será confrontado.
Ele tem o direito de ser feliz e, para isto, deve começar por perdoar a si mesmo, elevar a sua auto-estima.
É forçoso deixar o lixo atormentador pelo caminho, independente do que dizem outros; não é estultícia, é sabedoria!
Citando Dalai Lama:
“Seria muito mais produtivo se as pessoas procurassem compreender os seus pretensos inimigos. Aprender a perdoar é muito mais proveitoso do que simplesmente tomar de uma pedra e arremessá-la contra o objecto da sua ira. Quanto maior a provocação, maior a vantagem do perdão. É quando padecemos os piores infortúnios que surgem as grandes oportunidades de se fazer o bem, a si e aos outros“.
É fácil ao aprendiz vitalício perdoar a quem o prejudicou? Não, não é!
A necessidade de perdoar alguém sempre aflora quando alguma expectativa sua não foi alcançada.
Qual expectativa?
Por exemplo: que o outro faça, ou seja, alguma coisa; que deixe de usar algo; e assim por diante.
Quer dizer: quando o outro faz algo que quebra uma sua expectativa; o pouco habilidoso espera um pedido de perdão vindo do outro.
O raciocínio mais comum é: o problema é do outro e não seu.
E devido a isto, o inepto fica cada vez com mais raiva dos outros.
Fica na expectativa que os outros lhe peçam perdão, e como estes não o fazem, cria uma sequência crescente de frustrações.
A sua ira aumenta cada vez mais. A mochila da vida pressiona-o mais contra o chão.
Levar a vida com outro nível de expectativa leva ao perdoar. Primeiro a si mesmo, depois ao próximo.
Citando William Shakespeare:
“O perdão cai como uma chuva suave do céu na terra. É duas vezes bendito: bendito ao que dá e bendito ao que recebe“!
O sábio não permite que o outro o atinja.
Ele sabe que é ele mesmo quem permite que o outro o acerte.
Aprendeu também que é ele mesmo quem coloca mais peso dentro da sua própria mochila da vida.
O próximo não é responsável pela sua frustração.
É algo particular de cada um. Ele não tem como controlar um processo que é único e resultado exclusivo do livre arbítrio do próximo.
É ele próprio quem aceita colocar às suas costas o peso da frustração que alguém, intencionalmente ou não, impinge.
Há também aqueles que dizem: – Você é a razão da minha felicidade! – Como é possível expressar tal sandice?
Isto é algo que leva fatalmente ao desenvolvimento de ressentimento e raiva.
A necessidade de perdoar vem do outro nem sempre fazer o que se espera. E a conclusão a que se chega deste raciocínio é que amar está mais no doar que no esperar.
Outra razão frequente de perdão vem para aquele que não tem tempo equilibrado em coisas distintas.
Fatalmente terá muitos momentos de decepção se não procurar equilibrar o seu tempo para todos os aspectos da vida.
Para poder perdoar e esquecer o que contribui muito é: boa saúde; alimentação correta; relaxamento; meditação; pensamento positivo; e exercícios físicos.
Considerar também que os problemas de relações interpessoais são cinco por cento reais e noventa e cinco por cento o que se faz deles.
O sábio analisa as possibilidades e o nível de expectativa real sem fantasias.
Isto diminui a frustração.
E como frustrações geram culpa, ao perdoar a si próprio, alivia-se o peso da mochila da vida.
As lascas retiradas da pedra bruta são deixadas pelo caminho.
E só então, devidamente fortalecido, existe real possibilidade de perdoar aos ofensores, àqueles que quebraram as expectativas.
Isto desenvolve a energia emocional de aceitar aos outros como eles são, sem a obrigação de aceitar o mal que fazem ou a maneira como se comportam.
Como não existe meio de controlar as ações de terceiros, ninguém é obrigado a se tornar conivente com o indesejado.
Aceitar seria ferir o seu direito à felicidade e certamente prejudica a saúde.
Citando Louise L. Hay: “A doença alimenta-se da falta de perdão. O perdão não tem nada a ver com aceitar um mau comportamento. A pessoa que você acha mais difícil de perdoar em geral é aquela da qual você mais precisa de se libertar.
Eu descobri que perdoar e em seguida deixar partir o ressentimento são atitudes que ajudam a curar até mesmo o câncer”.
E como o aprendiz vitalício nunca fará os outros mudarem, então a mudança deve vir dele próprio.
E normalmente, como são os mais próximos que ofendem, resta-lhe apenas colocar limites. Ao mudar o seu relacionamento com as pessoas, elas mudam com certeza.
De alguma forma, sempre se obtém resultado positivo ao aliviar a mochila da vida.
Porque, como dizia Mahatma Gandhi: “o fraco jamais perdoa: o perdão é característica do forte“.
E o aprendiz forte e esperto tem a sua mochila da vida sempre aliviada, tão leve que, não existisse a gravidade, poderia até voar.
Charles Evaldo Boller
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