Desde que um homem se questiona sobre sua origem, sua natureza profunda e sua razão de ser, desde que o mistério da criação e a finalidade do destino humano o interpelem, ele se põe a buscar um Absoluto, um sentido à Vida e à sua própria existência, a imaginar um ideal de sabedoria e de santidade na direção da qual tende.
Assim engaja-se num processo de espiritualização que o leva a se recentralizar sobre si mesmo, distinguindo o profano do sacro, a empreender uma conversão existencial.
Se perseverar, pode ser que chegue um dia a apoiar, definitivamente, sua existência sobre uma base ética e espiritual firme e a dedicarse generosamente a seus irmãos na humanidade.
Apesar de sua dupla polaridade, humana e divina (Terra e Céu, Matéria e Espírito, Esquadro e Compasso), o Maçom Escocês engajado no caminho iniciático do Rito, aprende que este despertar dele próprio, depois sua abertura para além de sua pessoa, não podem se efetuar por uma simples adesão a um ensinamento doutrinal.
Ele se dá conta que a descoberta, pode-se dizer, progressiva, de sua natureza fundamental, e porque não dizer divina, e seu esforço de espiritualização dependem de uma firme vontade pessoal.
Não lhe será solicitado a abdicar sua personalidade, nem render culto a uma entidade divina, dogmática, mas dissipar os véus da ignorância, os quais obscurecem sua consciência, perturbam sua reflexão, adulterando suas escolhas e seus compromissos existenciais.
Esta consciência que ordenará sua vida e, agente de sua própria regeneração, dará sentido à existência, por si e pelos outros, ao mundo e à sociedade atual. Unido em consciência ao Princípio universal e espiritual que a Maçonaria denomina "Grande Arquiteto do Universo", tendo adquirido o sentimento de estar reunificado em si próprio e reconciliado com o mundo, ser-lhe-á possível se consagrar à sua vocação de construtor, com zelo, justeza e fraternidade.
O caminho iniciático do Rito Escocês Antigo e Aceito se propõe, a princípio, a ajudar o Maçom a refinar seu discernimento.
Ao incitá-lo a um retorno sobre si mesmo, o convida a tomar consciência de determinismos instintivos, emocionais, mentais, ancestrais, sociais e ideológicos que suscitam seus pensamentos, induzindo suas fixações de identidade e motivando inconscientemente seus atos.
Se esta primeira fase do despertar à sua realidade interna é bem conduzida e levada o mais longe possível, ele poderá a seguir descobrir, além de seus estados psicológicos e de suas pressupostas intelectualidades, uma nova dimensão que ultrapasse o plano limitado de sua pessoa, qual seja, a natureza espiritual de seu ser profundo.
A espiritualização pelo caminho iniciático requer, daquele que o escolhe, uma participação voluntária, lúcida e ativa, indo ao encontro de seu despertar interior, em uma total liberdade de consciência.
Ela é uma busca, uma meditação e uma aventura pessoal conduzidas em um plano tradicional que leva a um mergulho interno.
Neste momento, deve ser destacado que a prática ritualística não é cultural ou sacramental mas ajuda a distinguir o mundo profano do mundo sagrado e a facilitar a passagem de um ao outro; seu simbolismo só pode ser visto numa iniciação e como um suporte de uma reflexão meditativa.
Ela não reclama nenhuma crença preliminar mas somente uma disposição que possa responder a um apelo interior e uma tenacidade a querer acompanhar tão longe e por quanto tempo for necessário para lhe permitir desabrochar.
Ela não repousa sobre nenhuma afirmação teórica ou formulação dogmática concernente às Verdades as quais convém subscrever, mas implica a prática efetiva de um percurso, prova iniciática em direção de uma "realidade" cuja presença irá se revelar ao coração, ao centro da pessoa.
A espiritualidade proposta pelo Rito Escocês Antigo e Aceito necessita de uma disposição particular da alma, componente espiritual da pessoa, que anima sua existência e lhe confere um impulso ético, inspira-lhe uma abertura incondicional do coração (a ele mesmo, a outro e a toda forma de vida), lhe permite ultrapassar os temores e as dúvidas que freiam seus ímpetos na direção do desconhecido, lhe dá força e perseverança no caminho árduo de sua descoberta e de sua transformação.
Dessa forma, o percurso iniciático em trinta e três graus proposto pelo Rito Escocês Antigo e Aceito constitui um caminho simbólico de espiritualização.
Ele reclama do adepto uma disciplina pessoal de eliminação progressiva dos "metais" psicológicos, intelectuais e ideológicos que encobrem seu mental e o impedem de ser consciente de sua dimensão espiritual, sendo o essencial deste percurso o meio de se adiar sobre seu aspecto esotérico, por outro lugar necessário para balizar a rota, que resgata os ensinamentos esotéricos que iluminam o caminho interior, ao sinalizar os obstáculos e sugerindo uma direção de busca.
Gradualmente, o adepto aprenderá a descobrir o essencial por detrás do formal, a dirigir seus passos e seus atos em função deste essencial, a melhor discernir nele o apelo do Espírito que se tornará cada vez mais preciso e mais premente.
Desde então, poderá viver sua Luz de Espírito e assumir plenamente sua existência com Sabedoria, Força e Beleza. Tal é a via iniciática e espiritual do Rito Escocês Antigo e Aceito que nós escolhemos livremente descobrir e percorrer depois de nossa entrada no Templo Maçônico, depois do primeiro grau do Rito.
A Humanidade clama por um renascimento espiritual, por uma espiritualidade aberta para o século XXI.
Nosso Rito Escocês Antigo e Aceito, pelos valores que encerra, se inscreve em uma tal perspectiva, basta a nós, desta Augusta Ordem, em geral, e do Rito, em particular, seguirmos o que está prescrito
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