Em 1816, após momentos conturbados com o Supremo Conselho, o GOF assumiu a jurisdição de parte do Rito Escocês Antigo e Aceito, decidindo que ficaria com o poder sobre o conjunto dos Graus 1º ao 18º. Essa escolha baseou-se na intenção de dirigir o Rito Escocês Antigo e Aceito com a mesma abrangência simbólica, como já fazia com o Rito Moderno, ou seja, do Grau de Aprendiz ao de Rosa-Cruz.
No Rito Moderno, o grau de Rosa-Cruz é o 7º, e no Escocês Antigo o 18º.
Em 1820, o Grande Oriente reorganizou o REAA, voltando-o para o funcionamento sequencial do Grau de Aprendiz ao de Rosa-Cruz. A esse conjunto de Graus, sob a mesma direção, foi atribuída a denominação de Loja Capitular, presidida preferencialmente por um Cavaleiro Rosa-Cruz.
Surge uma nova concepção obediencial no Rito Escocês Antigo e Aceito na França: Lojas Simbólicas, Lojas de Perfeição, Capítulos, obedientes ao GOF; Conselhos Kadosh, Consistórios, Supremo Conselho, obedientes ao Supremo Conselho do Grau 33.
Posteriormente, a maçonaria brasileira seguiria esse formato francês, permanecendo assim até o ano da criação das Grandes Lojas, por Bhering, em 1927, quando o Supremo Conselho conseguiu recuperar seu poder nos Graus 4º ao 33º.
Com o surgimento das Grandes Lojas no Brasil, essas tiveram a missão de organizar e coordenar a prática dos três primeiros graus, então já chamados de Simbólicos. As modificações produzidas pelo GOF em 1820 com o ritual que criou as Lojas Capitulares, não foram desfeitas, sendo incorporadas aos Graus Simbólicos do rito definitivamente.
Surge, com isso, uma modificação que perdura até os dias de hoje, e muitos não têm conhecimento: o piso do Oriente em desnível com o do Ocidente, próprio das Lojas Capitulares, conforme o ritual de 1820.
Pode-se observar que, no ritual de 1804, o piso do Templo é todo plano, apenas o Trono do Venerável Mestre era mais elevado e não havia separação com balaustrada. O Oriente elevado foi criado para simbolizar o Santuário do Grau Rosa-Cruz.
O Venerável Mestre, preferencialmente, deveria ter no mínimo, o Grau 18, assim como os que tinham assento no Oriente.
O Oriente elevado jamais fez parte da ritualística dos Graus Simbólicos e, portanto, não deveria ter permanecido na descrição do Templo após o desaparecimento das Lojas Capitulares, pois isso contribuiu para desinformar a respeito do Templo adequado para as Lojas Simbólicas.
Com o surgimento das Grandes Lojas Brasileiras, o Templo das Lojas, que se transferiram do Grande Oriente do Brasil (GOB) para as Grandes Lojas, antes ajustado para os Graus Capitulares, e alguns, ainda carregados em sua ornamentação de influências do Rito Francês (Moderno), não foi readaptado para o modelo original do Rito Escocês Antigo e Aceito anterior a 1820, ou seja, o piso plano em toda a extensão.
Após esse introito, passaremos a falar de mais um enxerto no REAA, tema principal desta matéria: a figura do Mestre Instalado.
A cerimônia de Instalação do Mestre da Loja é até mais antiga do que o próprio grau de Mestre Maçom, já que, antigamente, quem dirigia a Loja era um eleito entre os Companheiros; não existia o Grau de Mestre Maçom.
Posteriormente, surgiria tal grau.
E, com a figura do Past Master (Mestre Instalado) pairava uma dúvida, pois o grau maior do Simbolismo sendo o de Mestre Maçom, não poderia aceitar a participação de aludida figura na Cerimônia de Instalação do Mestre da Loja, nem mesmo os que já tivessem ingressado no estudo dos Graus Superiores.
Afinal, o Mestre Instalado é um Grau ou não?
A cerimônia de Instalação do Mestre da Loja remonta ao início do século XVIII, sendo introduzida em toda a Maçonaria, somente, a partir de 1810. Tal cerimônia é anterior à criação do Grau de Mestre Maçom em 1724, e somente efetivado em 1738.
O título de Venerável Mestre teve origem nos meados do século XVII, com a transição da Maçonaria Operativa para Especulativa.
Deriva da palavra inglesa “Worship”, significando “culto”, “adoração”, “reverência”. Como forma de tratamento, a palavra inglesa “Worshipful”, significa “adorado”, “reverente”, “venerável”. Portanto, “Worshipful Master” significa Venerável Mestre.
Na Alemanha, o Venerável Mestre recebe o nome de “Meister vom Stuhl”, ou seja, Mestre de Cátedra. A Cátedra é o significado mais importante do Veneralato.
O Catedrático é mais um doutrinador, um ensinador, um sábio, que inaugura uma nova era de conhecimento, que dá nova visão do mundo e que a ninguém presta obediência doutrinária.
Portanto, um Venerável Mestre não pode ser sagrado, e sim, consagrado por uma Comissão de três Mestres Instaladores, devidamente, nomeada pelo Grão-Mestre.
A palavra instalação é oriunda do latim medieval, “in” e “stallum”, cadeira. Chamamos de Instalação o ato que concede o direito de exercer privilégios de um ofício. Um aspecto importante e específico da Instalação Maçônica é o que dá direito de sagrar homens e objetos.
A Instalação do Venerável se dá no Trono de Salomão, na Cadeira do mais Sábio dos Reis, conquistando o mesmo o poder de ungir Maçom, de fazer Maçom.
No Ritual Emulation, existe o chamado Santo Real Arco, criado por volta de 1751, baseado no retorno do povo judeu da Babilônia e em uma antiga lenda sobre a descoberta de um altar, de uma cripta e da Palavra Sagrada.
Não chega a ser um Grau em si, embora essa não seja a interpretação de boa parte dos maçons ingleses, mas, sim, uma extensão do Grau de Mestre, tendo ritualística própria, e parte do ritual reservada, apenas, aos “Past Masters”.
Em meio à tentativa de união das Grandes Lojas Inglesas (Modernos e Antigos), isso chegou a ser um impasse. Em 1813, concretizou-se a união dessas Potências, sendo que a maçonaria inglesa considerou que, no Simbolismo, existem apenas os três Graus conhecidos, porém o Santo Arco Real, nesses, está inserido (vai entender!), embora exista um Supremo Grande Capítulo que o administra separadamente.
No Brasil, até 1928, nem no Rito Moderno nem no REAA, foi realizada qualquer Cerimônia de Instalação.
Com o surgimento das Grandes Lojas, o REAA adotou essa prática, que, anos mais tarde, também, foi imitada pelo GOB. A pedido do Grão-Mestre Álvaro Palmeira, o insigne escritor Nicola Aslan, que em 1966 havia se desligado das Grandes Lojas e se filiado ao GOB, foi incumbido de escrever um Ritual de Instalação, adotado no ano seguinte.
O Templo com o piso do Oriente elevado, oriundo das Lojas Capitulares, passou a ser reservado aos Mestres Instalados, o que veio a fortalecer essa nova categoria, que possui segredos próprios e exclusivos.
Voltamos a perguntar: Mestre Instalado é um Grau? A resposta é não.
Porém, sua superioridade hierárquica sobre o Mestre Maçom se caracteriza na Cerimônia de Instalação, no momento em que todos os Mestres Maçons não-instalados, mesmo os portadores dos Altos Graus, são obrigados a cobrirem o Templo.
Dada a sua experiência, adquirida por haver presidido uma Loja, compõe o Colégio de Mestres Instalados de sua Oficina, e aí, até justificando sua presença no Oriente, servindo como consultores, em auxílio ao Venerável Mestre.
A dignidade do Mestre Instalado é compatível, tão somente, com Ritos Anglo-Americanos, como o Craft e o York, que permitem, no Ritual, a supremacia hierárquica do Mestre Instalado sobre o Mestre Maçom não-instalado, embora, oficialmente, a Grande Loja Unida da Inglaterra não reconheça essa supremacia.
O termo Past Master tem sua origem na Maçonaria Inglesa e é próprio do Ritual Emulation, servindo para designar o Ex-Venerável Mestre. De forma errônea, algumas Grandes Lojas, como a Americana e a Brasileira o adotaram. Para os americanos, é válido pelo idioma inglês adotado e por praticarem o Craft no Simbolismo, mas, para nós brasileiros, usuários da língua portuguesa, esse termo nada tem a ver, principalmente, por não existir no REAA.
Temos visto muitos Irmãos pronunciarem o termo “Past Venerável”, o que vem a ser pior ainda, já que não define qual idioma se pretende usar. O certo é tratar o Mestre Instalado, que recém encerrou seu Veneralato, de Ex-Venerável.
Há alguns anos, quando proferimos uma palestra no Rio de Janeiro sobre “Cabala e Maçonaria”, relacionamos a Árvore da Vida com os cargos em Loja e tivemos a oportunidade de fazer uma analogia da invisível e misteriosa Sephira Daat, cujo significado é “Conhecimento”, posicionada, ocultamente, na coluna central da Árvore da Vida, entre Kether (Coroa – a origem de Tudo) e Tiphereth (local do Eu Superior), com a figura do Mestre Instalado. Tal Sephira, somente, surge após a realização das 10 Sephiroth, interligadas através dos 22 caminhos da Sabedoria, relacionados aos 22 Arcanos Maiores do Tarô, que, somando-se às 10 Sephiroth, aludem ao número 32, os 32 Portais da Sabedoria.
Em relação ao corpo humano, são os nossos 32 dentes, localizados na boca, de onde vem a força do Verbo, da Vibração, o Poder da Criação Espiritual.
O surgimento da Sephira Daat soma o cabalístico número Mestre, o 33, tão nosso, porém oriundo de Antigas e Ocultas Tradições, do qual pouquíssimos Iniciados nos Verdadeiros Mistérios têm conhecimento, como a Ordem dos Traichu-Marutas.
Autor: Francisco Feitosa
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