A CADEIA DE UNIÃO - Rizzardo da Camino



Um ponto de partida para a compreensão do que se convencionou denominar de Cadeia de União, sem dúvida, é definir a própria expressão simbólica. 

Cadeia, no entender dos dicionários não passa de “uma corrente de anéis de metal”, mas em Maçonaria devemos considerá-la apenas como uma “corrente” que “une”. O símbolo formado por múltiplos anéis interligados entre si, sem princípio nem fim, evidencia a união perfeita, igual e imutável daqueles que aceitaram unir-se por laços fraternos. 

E a “corrente” vem sendo formada pelos seres humanos, dentro dos Templos, entrelaçados os braços, unidos os corpos e as mentes, numa demonstração e confirmação de bons propósitos. 

A Cadeia de União é símbolo quando representada per uma “corrente de anéis de metal”, mas deixará de ser símbolo quando em execução, para ser perfeita união. A Cadeia de União formada dentro de um Templo não simboliza a união fraterna; ela, é realmente a própria fraternidade. 

O símbolo apresenta, sempre, duas idéias: uma estática quando reproduzido por matéria e dinâmica quando exercido pelo ser humano. 

As próprias “marchas” dentro do Templo, nos três graus, obedecem à orientação dos seus símbolos: Régua, Esquadro e Compasso. Todo pensamento e movimento humanos podem ser reproduzidos por símbolos. 

Estes surgem mercê o poder criativo do homem; como símbolos são as letras de um alfabeto, as notas musicais, as figuras do Zodíaco, a nomenclatura dos componentes químicos, dos metais, enfim, daquilo que precisa ser materializado e composto. 

Exemplo melhor não teríamos do que os próprios números; apenas alguns símbolos tornam possível uma infinita escala de operações matemáticas. 

Portanto, o ponto de partida para uma ação, é o símbolo; indicada a ação, o símbolo deixa de existir. 

Qual é o símbolo existente dentro de um Templo representativo da Cadeia de União?  

São diversos: em torno do piso de mosaico; os colares ostentados pelas Luzes; a rede que deveria cobrir o topo de cada Coluna, a própria marcha dentro do Templo, etc.. 

A Cadeia de União vem representada como sendo uma corrente, ou um colar, ou seja um seguimento de elos entrelaçados. 

No entanto, na descrição que se encontra no Primeiro Livro dos Reis, capítulo 7 e versículo 17, Hiram Abif dispôs “redes de malhas, e grinaldas de cadeias, para os capitéis que estavam sobre o alto das colunas”. 

E mais adiante lemos: “Fez as colunas, e havia duas ordens de romãs ao redor por cima duma rede para cobrir os capitéis que estavam no alto das colunas”. 

“Perto da parte globular, próximo à rede, os capitéis que estavam em cima sobre as duas colunas tinham duzentas romãs, dispostas em ordens ao redor sobre um e outro capitel”. 

As redes, obviamente, são formadas, também, de elos; as romãs e os lírios enfileirados uns ao lado dos outros, dão idéia de corrente, de continuidade, de união. 

Não esclareceu Hiram-Abif e não explicam as Sagradas Escrituras o porque daqueles símbolos e, sobretudo, os motivos que levaram Salomão a empregar redes, correntes, romãs e a infinidade de objetos descritos no 1º livro dos Reis. 

A rede formada de elos representa a união de todos os irmãos cobrindo o mundo. Uma corrente fechada em círculo representa a união de um determinado grupo de irmãos. 

A origem da Cadeia de União querem muitos que provenham dos mistérios egípcios; afirmar que a Cadeia de União Maçônica e a “Cadeia de União Egípcia” se identificam, seria fundirmos os mistérios egípcios com os mistérios maçônicos. 

Julgamos, porém, que o homem primitivo, sentado em torno da fogueira, em forma de círculo para melhor aproveitamento do calor, tenha constituído a primeira oportunidade de se organizar socialmente. 

Próximo um do outro, evidentemente, contando, apenas, a sexo masculino, iniciaram os atos de comunicação, quando e isto, especialmente, à noite, tinham a oportunidade de, descansando fazerem as comunicações sobre as suas aventuras e conquistas, obtendo dos mais velhos, os conselhos necessários e os que detinham autoridade, as ordens que deveriam cumprir. 

Paralelamente, passariam a considerar os aspectos místicos que recém despertavam, como o próprio culto ao Fogo. 

Às reuniões em torno da fogueira, aspirando o “perfume” da madeira queimando, envolvidos na fumaça, qual incenso rudimentar, sentiam o “som” que o crepitar das chamas produzia, os efeitos da reunião. 

O hábito, a satisfação da reunião, o bem estar da situação, fazia com que a amizade fosse sincera e cultivada; eram, quiçá, os primeiros elos ao culto da fraternidade. 

Naquela situação peculiar, poderiam cantar, bater palmas, produzir sons compassados por meio de pedras, escutar o sibilar do vento, enfim, toda uma série de fatores que muito mais tarde, sugeririam, seja a Egípcios ou outros povos, a transformação daqueles atos naturais, em liturgia. 

A união entre irmãos não deve ser confundida com a Cadeia de União. 

Os livros maçônicos não nos instruem sobre a origem da Cadeia de União, aliás, parece que o termo é recente: Karl Dittmar, em seu opúsculo “Das Katena”, diz da dificuldade que teve para encontrar essas origens e apresenta suas dúvidas de que a Cadeia de União seja, realmente, um símbolo maçônico. 

Nos símbolos relacionados por F. C. Endres não figura a Cadeia de União. 

Informa Dittmar: “o termo ’Cadeia de União’ tornou-se conhecido internacionalmente somente após a fundação do Escritório Universal da Maçonaria, originalmente como uma entidade privada do Irmão Eduard Quartier la Tente, Grão Mestre suíço, em 1902". 

Um dos argumentos mais sérios e a ser considerado reside no fato de que a Grande Loja da Inglaterra não pratica a formação da Cadeia de União em suas cerimônias. 

Funk escreveu em 1861: “Em 28 de setembro de 1778, o Duque Ferdinand de Braunschweg instruiu os irmãos do oriente de Magdeburg a formarem a Cadeia de União por ocasião do restabelecimento ritualístico das colunas da Loja Ferdinand o Venturoso”. 

Em 1758 foi instituída uma Confraria: a Ordem do Colar dos Peregrinos. 

Eis sua origem: “Três cavaleiros viajavam de carruagem, quando o veículo sofre um acidente e é avariado. De uma granja próxima aparece socorro em forma de uma corrente que auxiliou no conserto da carruagem, permitindo o prosseguimento da viagem. 

Em reconhecimento, os três cavaleiros propõem-se formar uma Ordem(1) e jurar amor fraterno. O emblema da Ordem consistia em três letras entrelaçadas em círculo: Fahigkeit, Bestandigkeit e Stillschweigen” (Disposição, Perseverança e Discrição). 

Abaixo do monograma pendiam três argolas entrelaçadas. 

Quando era admitido um novo membro na Ordem, faziam referência a: ‘ferrar um elo na corrente’”. 

Em 1616 o aventureiro Kotteus da Silésia tivera algumas visões, e uma delas representava três homens sentados em torno de uma mesa triangular, de mãos dadas em cadeia. 

Quando da construção das primeiras igrejas em solo germânico, os pedreiros tinham o costume de colocar uma pesada corrente em torno da construção, existindo, ainda, hoje em dia, em algumas delas. 

A origem da colocação daquelas correntes remonta ao “mártir algemado” São Leonardo, que teria falecido em 559. 

Sobre S. Leonardo há outra versão diferente, a de que conseguira de Clodoveu I, rei dos francos, a libertação de inocentes prisioneiros algemados, tornando-se, assim, o santo protetor dos prisioneiros e dos animais acorrentados. 

Outra versão apresentada por Dittmar (obra citada) e que teria sido narrada por K. Künstle em sua Iconografia dos Santos diz: “Conforme uma biografia escrita no século XI, São Leonardo pertencia à nobreza e foi educado na corte real. Quando adulto tornou-se monge, sendo considerado um santo. No início da Idade Média, o culto a São Leonardo passou a sobrepujar as crenças sobre as forças da natureza, especialmente na Baviera. Posteriormente, ampliou-se a sua área de influência. Uma lenda de época posterior faz referências a um prisioneiro do Conde de Limousin: em seu desespero, o prisioneiro implorou a São Leonardo e este lhe apareceu trajando longas vestes brancas e lhe ordenou que “erguesse” a pesada corrente e a transportasse ao Templo. Tal aconteceu. Posteriormente, inúmeros presos, inclusive insanos mentais que na Idade Média eram acorrentados, “ergueram” suas correntes e as transportaram ao Templo em sinal de gratidão pela liberdade adquirida. Todos eram atendidos pelo Santo e as correntes votivas que se acumulavam nas Igrejas foram reunidas numa só, para, então, circundar os Templos.” 


NOTA

(1) Na época, todo motivo era pretexto para fundar uma “Ordem”. A corrente como atributo milagroso está ligada a mais cinco santos, conforme informa Künstle. O poder curativo da corrente nos aparece na lenda de Santa Balbina, uma virgem romana do II século, cuja ferida no pescoço somente sarara quando o Papa Alexandre lhe colocou, à guisa de colar, uma corrente com a qual ele próprio fora acorrentado quando prisioneiro. Amadeus Wolfgang Mozart (1756-1791), compositor austríaco, foi iniciado na Loja “A Beneficência” no ano de 1784, quando já celebridade no campo da música. Além das inúmeras obras maçônicas onde se destaca a “Flauta Mágica”, compôs, já quase no leito de morte, o cântico: “Irmãos, colocai as mãos na Cadeia de União”, constituindo-se, ainda hoje, o hino da Ordem Maçônica Alemã. Desejam alguns autores atribuir a origem da Cadeia de União, às danças de roda infantis, comuns a todos os povos e em todas épocas. As nossas “cirandas” dos tempos escolares. As tribos africanas e as religiões tipo “folclóricas” mantêm em seus cultos à dança, culminando, sempre, na formação de círculos; temos exemplos nos antigos filmes de “faroeste”, nas cenas onde os índios peles-vermelhas executavam as danças festivas ou guerreiras, sempre em círculo. No Universo tudo transcorre em círculo e cadeia. 

O sistema solar, com a rotação dos astros e da própria Terra, obedece a leis simples, claras e harmônicas, movimentando-se em círculos; até o viajante, perdido no deserto, caminha em círculos.


REFERÊNCIA: A CADEIA DE UNIÃO - Rizzardo da Camino



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