Ultrapassado o grau de Companheiro, esforça-se para chegar ao de Mestre, ou seja, pretende exaltar-se ao último grau do simbolismo.
Crê fazer jus a isso mediante seus trabalhos.
Louvável ambição, se a guiam sentimentos nobres e magnânimos; perniciosa, se é seu móvel a vã ostentação.
São os Mestres os chamados a julgar a utilidade desta ambição.
O Companheiro trabalhou sobre a direção do Mestre: adquiriu ciência na prática e na teoria de seu grau.
Está mais ilustrado e ativo, porque a esperança de uma recompensa próxima o engrandece; mais hábil na execução das obras e mais consciente de seu próprio valor, quer chegar, de improviso, e sem interstício algum, à satisfação de seu desejo.
Mas estes mesmos dotes enchem sua alma de ambição.
Não é bastante, para ele, possuir as qualidades que lhe tornarão fácil a viagem por um caminho regular e ordenado, mas lento a seus olhos, e o frenesi de desejos imoderados conturba suas idéias.
Revolta-se contra a regularidade que se observa nos trabalhos.
Não consegue compreender que a multiplicidade destes são as novas e mais severas provas a que lhe submetem os Mestres.
Não quer vencê-las com constância e labor, mas apela para a violência.
Quer apressar o fim.
Sua audácia o torna suspeito, e torna-se o foco da desconfiança geral.
Eis aqui, em toda sua plenitude, a moral do terceiro grau da Maçonaria.
Para o Companheiro sábio e moderado estas dificuldades são emblemáticas; para o Companheiro ambicioso e violento, são realidades.
O homem é fraco, de ordinário, em todas as situações da vida.
Cede ao temor, à força, à perfídia.
Há sabedoria e generosidade em seus Irmãos, quando o advertem sobre os erros em que pode incorrer, livrando-o das penas que o podem alquebrar.
Uma longa e triste experiência comprovou que o temor faz réus de graves faltas também àqueles que pareciam mais fortes e animados, salvando-os hoje, com coragem, de um perigo para derrubá-los depois num abismo onde caem por fraqueza.
Ponhamos agora em ação a conduta do Companheiro ambicioso.
Para ser Mestre, tudo esquece, tudo sacrifica.
Trata de obter, empregando a astúcia ou a ameaça, recorrendo até ao crime, aquilo que não pode licitamente alcançar; exercitando todas as suas faculdades, engana, despreza, violenta o Mestre.
Frustrados todos os esforços, vê uma espantosa verdade: foi temerário, comprometeu-se: ao partir, fechou com as próprias mãos a porta do arrependimento.
Na impossibilidade de voltar atrás, chega às últimas conseqüências do crime: um erro leva a outro – guardai-vos bem de não cometer o primeiro.
Ferido o Mestre, sucumbe ao impulso dos excessos do Companheiro; mas guardou seu segredo, e o Companheiro cometeu um crime inútil.
Logo se conhecerá sua perfídia.
O remorso do culpado fará triunfar a razão, e a divindade e a virtude, profundamente ofendidas, serão vingadas.
No Grau de Mestre, reaparece o Companheiro e se desenvolve perante seus olhos, em toda sua extensão, a idéia matriz dos filósofos antigos e modernos: do seio da morte nasce a vida; ou, de outro modo, segundo Ovídio: tudo muda de forma, mas nada desaparece.
Esta sublime idéia que alguns homens sistematizaram, menos por ignorância do que por má-fé, deve nos predispor às mais sublimes meditações.
É nesta base que se fundamentam os mais belos e consoladores princípios morais e os maiores dogmas religiosos, iguais no fundo e na essência, ainda que variados na forma.
Todos os povos da terra não reconhecem outra fonte.
Bem-aventurados os homens de virtude e consciência que limitam sua ambição à pratica da moral!
Glória e prosperidade aos que, propagando esta moral protetora da espécie humana, elevam seu espírito até o G\A\D\U∴, implorando graças aos homens virtuosos de toda a terra e perdão para o delinqüente arrependido.
A MATURIDADE
Chegado o homem à maturidade, período da vida entre a juventude e a velhice, aspira obter o prêmio de seus talentos por meios nobres e decorosos, títulos, honras, glória e felicidade.
Moderado e prudente, seria suficiente esperar tudo da apreciação de seu trabalho ao longo do tempo.
Entregue a si mesmo, seria a mais inefável das sortes, a mais pura das glórias, possuir o que ninguém pode dar ou pagar: a tranqüilidade da consciência e lembrança das boas ações.
Mas, se a ambição o domina, já não haverá nem prudência, nem meditação, nem freio; serão seus próprios méritos que o irão enganar, longe de se tornarem o baluarte de sua felicidade.
O mérito dos demais não tem brilho a seus olhos e em cada homem vê um rival que quisera reduzir a pó.
O prêmio que lhe está oferecido se afasta cada vez mais ante sua inflamada imaginação, porque não o vê chegar velozmente.
Quer arrebatá-lo e não o detém os meios em seus fins: astúcia, perfídia, calúnia, fraqueza, crime, tudo acredita bom e legítimo.
O egoísmo é seu Norte; o instinto da usurpação, sua estrela; a ambição, sua bússola; nesse mar bravio, seu juízo resta perturbado e corrompido seu coração.
Junta-se com aqueles que obram como ele e meditam e cometem um crime... desmascarados, acham o suplício na vergonha.
Para o cúmulo do castigo, seu coração é torturado pelo remorso sem trégua, sem fim; é estéril para os demais, porque o exemplo pode horrorizar por instantes, mas raramente corrige.
As lições que recebemos são inúteis, quando as paixões são superiores ao homem.
“Sua ambição não é legítima” – disse o ambicioso diante de um rival.
“Elevar-me-ei onde ele sucumbiu: não venceu porque as circunstâncias lhe foram adversas, mas a mim favorecem... a audácia ajuda a sorte.”
Insensato! ...
Acredita ver o término feliz de suas esperanças, mas não vê os perigos que o rodeiam e, se chega a enxergá-los, os experimentará, desperdiçando em vão sua audácia e sua fortuna! Ambiciosos de todas as épocas e de todas as condições!
Compreendei que a sorte, quando foi filha do crime ou da loucura, por mais brilhante que fosse na aparência, teve sempre cruéis remorsos e recônditos pesares.
Quando vivíeis cheios de poder, reinava o silêncio nas abóbadas do Templo; mas, uma vez na tumba (física ou moral), a história ou as tradições vulgares afastará o véu de vossos crimes e vossos nomes ficarão manchados numa eterna afronta.
Honrai a prudência, o talento, a elevada razão dos fundadores da Maçonaria que nos legaram os meios de abater as paixões, sobretudo a ambição, cujo extermínio é um dos mais altos fins do sublime Grau de Mestre.
Viajando com os Mestres do Imaginário... http://mestredoimaginario.blogspot.com
Comentários
Postar um comentário