O Termo Cadeia de União


O termo Cadeia de União compõe-se de duas palavras, “cadeia” e “união”(2). Vamos analisá-las para melhor compreensão e entendimento. 

O significado comum de “cadeia” já foi dado no início; cumpre, agora, conhecermos o significado “maçônico”. Dentro do Templo, notamos no “pavimento de mosaicos” a “orla dentada” que circunda e que expressa o mesmo símbolo de união.

No “Manual de Paramentos e Jóias” adotado pela Maçonaria Simbólica Regular do Brasil (edição 1956) vemos que o Grão Mestre usa um colar metálico composto de 13 chapas e 7 estrelas. 

Não passa de uma “cadeia” simbólica, usada pela autoridade máxima do simbolismo. 

Traz em si, como determinação externa, o propósito de unidade espiritual dos que se encontram sob seu “Malhete”. 

Os colares sempre foram altamente simbólicos, usam-nos quase todas as seitas religiosas do oriente e do ocidente; uns, colocando-os no pescoço, outros os manuseando constantemente; exemplo dos mais comuns o temos no “rosário”, composto de contas que conduzem os fervorosos a uma oração constante. 

Em diplomas, figuras, “ex-libris”, encontramos “colares” que expressam “cadeias de união”, simbolicamente desenhadas; os brasões dos papas, cardeais e bispos, sempre contêm, ou elos dispersos, ou colares, expressando união. 

A “Orla Dentada”, ou o “Borde Festonado”, ou “Franja Festonada”, é construída de diversas formas, mas ultimamente se a coloca no próprio piso de forma a mais simples possível, em pequenos triângulos. A forma não altera o seu significado. 

Em princípios do século XIX, os símbolos maçônicos eram desenhados com giz ou carvão, no assoalho e em terno era colocada uma corda. 

Não se confunda com a corda dos 81 nós que circunda o Templo, ao redor do teto, pois essa corda não é contínua; em suas extremidades pendem duas franjas. 

O seu simbolismo é muito diverso do da Cadeia de União. 

A “Orla Dentada” simboliza, outrossim, o círculo que os planetas formam ao redor do Sol em suas diversas evoluções. 

Simboliza a “muralha” protetora da humanidade formada pelos espíritos evoluídos que, com sua força mental, equilibram o ser humano, salvando-o da miséria e aflição. 

Curioso é referir que a “Cadeia” formada pela “Orla Dentada” toma o formato de um quadrilátero e não de um círculo, pois representa os quatro elementos: Terra, Água, Ar e Fogo. 

Uma Cadeia deve ser um “todo”, pois os seus “componentes” isolados, não atuam como tal.

Porém, na Cadeia de União, os “componentes”, ou “elos”, têm a peculiaridade, por serem “seres humanos”, de atuarem em separado. 

Cada Maçom constitui-se em “elo” da Cadeia de União e, fora de sua formação, são “elos em expectativa” para, reunidos, atuarem como conjunto. 

Os demais símbolos a que aludimos, como a “Orla Dentada”, a “Corda dos 81 Nós”, as “Redes” sobre as Colunas, os “Colares”, tudo o que possa representar “Círculo”, são estáticos e só valem quando se constituem em “todo”. 

Por exemplo, não será símbolo um fragmento de uma Jóia, de um Instrumento, de uma Página do Livro Sagrado; de um Nó da Corda de 21 Nós, de um elo de um Colar. 

O Cordão do Avental só será “Cadeia” e símbolo quando atado à cintura do Maçom; isolado, estático, nada representa. 

O “elo” da Cadeia de União, isolado, por ser um “ser”, atua misticamente, como Cadeia, se com o pensamento se une aos demais “elos” da Loja. 

Há uma Cadeia de União em cada Loja; há uma Cadeia de União em cada Jurisdição (uma Jurisdição compreende as Lojas de um Estado da União); há uma Cadeia de União em cada País; há uma Cadeia de União sobre a Terra e há uma Cadeia de União Universal. 

Cada “elo” constitui um “elo” da Cadeia de União de sua própria Loja, mas também, de todas as demais “Cadeias de União” mencionadas. 

A “Cadeia de União Universal” abrange os “seres” humanos e os “exclusivamente espirituais”, se assim pudermos classificar as próprias Hostes Celestiais, e os “espíritos” dos que “morreram”. 

O “contato” mental é instantâneo; portanto, a “formação da Cadeia de União Mental” é instantânea. 

Nenhum “elo” permanecerá isolado e fora do “todo”, após ter participado de uma Cadeia de União. 

Porém, e isto está impregnado de esoterismo, o que faz a formação mental é a “Palavra Semestral”, que tem o dom mágico de unir os “Elos” esparsos. 

Faz-se, portanto, necessário, pelo menos uma aproximação entre os “elos”, semestralmente. 

Se a “palavra de união”, não fosse alterada semestralmente e fosse mantida por período mais longo, a sua função, evidentemente, seria prolongada; se inalterada, seria permanente. 

Muitos confundem a Corda dos 81 Nós com a Cadeia de União, confundindo “elos” com “nós”. 

Um “elo” é um elemento que une dois outros “elos”, mantendo-os, porém, isolados e livres. 

Os “nós” são formados por uma só “Corda”, que se “entrelaça” e prossegue; portanto, o “nó” não une. Falta à “Corda”, a finalidade de “unir”. 

A Corda dos 81 Nós circunda o Templo, dividindo a “Abóbada Celeste”, qual linha do Horizonte, da Terra.

Sendo a Loja um “quadrilongo”, a Corda dos 81 Nós, não se apresenta circular. 

A Cadeia de União forma um círculo, sem princípio ou fim; a Corda dos 81 Nós termina em duas extremidades, onde são colocadas duas borlas que atingem o solo; não é, portanto, uma “união” de “elos”, mas simplesmente, um símbolo estático, com função muito diferente, formado de “nós”. 

Em muitos Templos se vêem “Cordas” que possuem 81 “laçadas” ao invés de “nós”. 

A “laçada” ou o “laço” é, indubitavelmente, um “nó” em formação; bastará “esticar” a corda, para transformar o “laço” em “nó”. 

A função da Corda dos 81 Nós é “expelir”, de cima para baixo e de fora para dentro, as “energias elétricas”, sobre os Obreiros, atuando os “nós”, como “acumuladores” de energia. 

A Corda dos 81 Nós possui 81 elementos definitivos; não se os podem suprimir nem acrescentar. 

A Cadeia de União é formada por tantos “elos” quantos Maçons presentes. 

Os “nós” da Corda não o são dispersos; os “elos”, sim. O termo “Cadeia” sugere “prisão”, porque era costume cruel e antigo acorrentarem-se os prisioneiros. 

Cadeia e prisão são sinônimas; portanto, quem participa de uma Cadeia de União constitui-se em “prisioneiro”, no sentido de “união”; um “prisioneiro” do amor fraterno universal. 

Os Maçons encontram-se “presos” aos seus Irmãos de Loja, na solidariedade do bem comum e do crescimento espiritual.

Quando os Maçons formam a Cadeia de União, colocam-se um ao lado do outro, de pé, formando círculo. 

Porque estão parados e de pé e prestes a iniciarem um ato litúrgico, deverão colocar-se “à ordem”; após, cruzam os braços e se transformam em “elos simbólicos”, materializadas; dadas as mãos, surge uma Cadeia de União estática, o mais belo dos símbolos dentro de uma Loja. 

É a “Cadeia”, em direção à “União”. 

Os termos Cadeia e Corrente, maçonicamente, são sinônimos, pois seu significado etimológico é igual, até se considerarmos os efeitos da “corrente elétrica”, que circula na Cadeia de União já formada. 

No entanto, não só porque assim a denominam os Rituais, como mantém a tradição, mas porque, a origem situa-se exatamente no termo Cadeia, com o significado de “prisão”. 

A outra palavra, União, a encontramos no sentido maçônico, no salmo 133, embora cada versão apresente certas peculiaridades que vale a pena referir. 

Na tradução mais comum, de João Ferreira de Almeida, edição revisada e atualizada no Brasil pela Sociedade Bíblica do Brasil, assim apresenta o primeiro versículo do referido salmo: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos.” 

A tradução mais antiga, revista e corrigida na grafia simplificada do mesmo João Ferreira de Almeida, da Imprensa Bíblica Brasileira, assim diz: “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.” 

A tradução brasileira dos originais hebraico e grego, das Sociedades Bíblicas Unidas, apresenta: “Eis quão bom e quão agradável é habitarem juntos os irmãos!” 

A versão apresentada pela Vulgata, de autoria do padre Matos Soares, não difere das demais: “Oh! Quão bom e quão suave é viverem os irmãos em união!” 

A tradução dos textos originais pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, apresenta: “Oh! Como é belo, como é prazenteiro o convívio de muitos irmãos juntos!"

Nessa tradução chama a atenção a aparente redundância: “o convívio de muitos irmãos e de irmãos juntos”. 

Convívio de muitos irmãos juntos tem significado diverso. 

O convívio importa em reunião, em agrupamento. Irmãos juntos tem o significado de unidos. 

O convívio de irmãos unificados, em um só corpo, mente e espírito. 

“Ler Santa Bíblia”, versão italiana de Diodati, edição de 1891, assim informa: “Quant’ é buono che fratelli dimorino insieme!” 

Ler “Santa Bíblia”, antiga versão espanhola de Cipriano de Valera, publicada em Madrid, diz: “Mirad cuán bueno y cuán delicioso es habitar los hermanos igualmente en uno!” 

E assim, cada tradução, seja em que língua for escrita, revelará, sempre, o espírito do Salmista que diz afirmar que a união entre os irmãos os faz uma só pessoa. 

Cremos que o ponto de partida de nosso estudo deve ser fixado, exatamente, na fonte escrita, inquestionavelmente pura, que é o texto sagrado do Livro da Lei usado em nossas Lojas. 

A união dos Maçons não poderia ser mais bem executada que através de um símbolo: a Cadeia de União! 

É a universalidade em cadeia. 

Na era nuclear em que estamos vivendo há décadas, ficou assentado que uma série de átomos ligados entre si formam uma cadeia. 

Dentro da universalidade maçônica, o indivíduo representa esses átomos, pois, tanto no microcosmo como no macrocosmo, o Universo é encontrado, quer filosófica, quer cientificamente. 

O próprio vocábulo “Universo”, quer dizer, diversos em “um”. 

Uma cadeia de maçons forma um só símbolo: o homem universal. 

Os elos da Cadeia de União são os mesmos elos de uma cadeia comum, de metal, isto é, elos interligados entre si, embora individualmente soltos. 

Cada elemento conserva a sua personalidade de modo que em cadeia, sentem-se unidos, sem estarem “soldados” entre si.

O objetivo primário da Maçonaria é unir os Irmãos de tal forma que devem e possam parecer um só corpo, uma só vontade, um só espírito. 

Um Templo compacto, coeso, uma massa só, posto composta de partes heterogêneas, formando um todo, uma Instituição. 

Esse todo não diminui nem absorve as personalidades isoladas. 

Como o Universo que subsiste como um todo, porém, tem perfeitamente individualizado cada parcela, cada átomo de que é composto. 

O Maçom unido pela Cadeia de União não é absorvido e diluído, mas unido através da soma das forças físicas e mentais, existindo individualmente no todo. 

Admira que a instituição da Cadeia de União tenha seu nascedouro em era tão próxima, de vez que já os Templários a praticavam e em torno do Salmo 133 e da “união” invocada, a perseguição de Felipe o Belo e da Igreja através do pusilânime papa Clemente V. Michelet, na sua obra “Processo dos Templários”, tomo I, pág. 278, citado por Adelino de Figueiredo Lima, transcreve o Salmo 133 em latim: “Ecce quam bonum et quam jucundum habitare fratres in unum”

O objetivo do Salmo seria simplesmente a justificação do “homossexualismo”, prática a que se dedicariam os Templários; os noviços excitariam os veteranos com práticas obscenas e condenáveis: “In ore, in umbilico seu in ventre nudo, et in ano seu spina dorsi. Item aliquando in umbilico. Item aliquando in fine spine dorsi. Item, aliquando in virga virili.” 

Tal procedimento visaria preservar os segredos da Ordem, suprindo a falta de contato sexual heterogêneo, cuja incontinência de linguagem assustava os Templários: “Si habert calorem et motos carnales, poterant ad incivem carnaliter commixeri, si volebant, quia medius erat quod hoc facerent inter se, ne ordo vituperaretur, quam si accederent ad mulieris”

As perseguições contra a Maçonaria incluíram as fantasiosas e maldosas imputações feitas aos Templários e, talvez, a partir daí é que houvesse certa restrição ao uso da Cadeia de União e da leitura em voz alta do Salmo 133. 

Nem sempre a leitura do Livro Sagrado fixou-se para a abertura dos trabalhos em sessão de Aprendiz, no Salmo 133, e ainda, hoje, muitos autores discutem a validade da escolha daquele trecho, temerosos de que pudesse haver, novamente, interpretação maldosa.

A União, obviamente, será física no sentido da “fraternidade”, mas jamais uma união “carnal”; a “União” “mental”, “espiritual” é de muito mais eficácia que a união física. 

O símbolo não se presta a dúbias interpretações, pois um dos pontos básicos da Maçonaria e o seu alicerce mais sólido é a Moral!


NOTA

(2) A ciência que estuda a origem das palavras, a Filologia, constitui meio caminho andado para a Filosofia; no estudo dos símbolos, a “dissecação” dos vocábulos equivale a um estudo filológico.

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