Proibida na época soviética, maçonaria retoma antiga tradição no país

 Com o objetivo de "levantar templos à virtude e construir masmorras aos vícios", a maçonaria russa abrigou durante anos os intelectuais mais avançados do seu tempo Foto: Flickr / Alwyn Ladell

Com o objetivo de "levantar templos à 

virtude e construir masmorras aos vícios", 

a maçonaria russa abrigou durante anos os intelectuais 

mais avançados do seu tempo 

Foto: Flickr / Alwyn Ladell



Fundada em 1995, 
a Grande Loja Maçônica 
da Rússia é hoje a sucessora de uma 
tradição de 300 anos, reconhecida por 
maçons de outros 130 países do mundo, 
de acordo com seu site.

É difícil saber o número de maçons na Rússia, mas a Grande Loja (órgão administrativo que regula a vida das lojas) da Rússia hoje reúne representantes de pelo menos dez cidades do país. 

Seu presidente, Andréi Bogdanov, foi candidato nas eleições presidenciais da Rússia em 2008 pelo Partido Democrático da Rússia, que também preside.

Na Rússia, como nas outras ex-repúblicas soviéticas, a maçonaria foi proibida durante a época soviética e agora está aumentando o seu nível de influência.

No mural do Facebook da Grande Loja da Rússia, os maçons parecem não ter mais necessidade de segredo ­–postam fotos nos aventais vermelhos do Rito Escocês Antigo e Aceito em vários lugares do mundo. Até compartilham as imagens das lápides maçônicas nos túmulos dos irmãos recentemente falecidos.

De acordo com as regras da maçonaria, pode existir apenas uma Grande Loja em cada país do mundo. Esse princípio se chama Regularidade.

Em uma entrevista recente, Bogdanov explicou que "desde 1992, apareceram cerca de 800 lojas na Rússia. Temos lojas em Moscou, Voronej, São Petersburgo, Vladivostok, Sôtchi, Kaliningrado, Krasnodar, Magnitogorsk, Iekaterimburgo e Saransk."

Origens e princípios

Com o objetivo de "levantar templos à virtude e construir masmorras aos vícios", a maçonaria russa abrigou durante anos os intelectuais mais avançados do seu tempo.

Originalmente, a maçonaria chegou à Rússia em 1731, quando a Grande Loja da Inglaterra nomeou um militar, o capitão John Philips, como Grão-Mestre Provincial da Rússia e da Alemanha. Graças à participação de militares estrangeiros nos assuntos da Rússia, a maçonaria cresceu muito no século 18, na época de Catarina 2a, a Grande.

A primeira loja maçônica da Rússia foi chamada a Loja da Perfeita Unidade n º 414 e foi fundada em São Petersburgo em 1771. O secretário pessoal de Catarina, Ivan Ielágin, foi nomeado o primeiro Grão-Mestre Provincial da Rússia.

Naquela época, a maçonaria no país dependia da égide da Grande Loja da Inglaterra, que tem lojas em toda a Europa, na África e no Sudeste Asiático.

Em 1776, Ielágin criou a primeira Grande Loja Nacional da Rússia, que adotou o conhecimento maçônico europeu com as tradições dos Templários.

Apesar do sucesso na Rússia, em 1822, o czar Aleksandr proibiu seu funcionamento, em resposta à participação dos maçons nas Guerras Napoleônicas.

Depois do século 19, as coisas se tornaram ainda mais complicadas. No início do século 20, cerca de 15 maçons russos que emigraram para a França se juntaram a lojas em Paris, onde entraram em contato com a tradição universalista francesa. Principalmente as lojas Kosmos e Monte Sinai.

Em 1908, eles voltaram para a Rússia e fundaram a Loja Estrela Polar, em São Petersburgo, e a loja Regeneração, em Moscou. Um pouco mais tarde abriram lojas russas em Berlim e em Paris.

Embora muitos maçons tenham participado ativamente no movimento contra o autoritarismo dos czares, o 4º Congresso Mundial da Internacional Comunista em 1922 declarou que ser maçom e comunista era algo incompatível . Trótski disse que a maçonaria era "uma ideologia de concepção burguesa, cujos princípios não correspondem à ditadura do proletariado".

Os expurgos custaram a vida de dezenas de maços e da instituição –a maioria teve que emigrar para a França até os anos 1990.      

Hoje, a Grande Loja da Rússia, de acordo com seu site, é a sucessora de uma tradição maçônica de 300 anos, reconhecida pelos maçons de 130 países do mundo. 

Seu nível de influência social está aumentando. Lojas russas trabalham em russo, inglês e francês. 

Existe até uma loja de investigação que é responsável pelo treinamento maçônico dos russos.      

Segundo Bogdanov, que recebeu 1,30% dos votos nas eleições presidenciais em  2008, existe uma relação direta entre a maçonaria na Rússia e o poder político. 

"Temos reuniões periódicas com representantes da administração presidencial, que está interessada nos problemas que temos e em como as coisas funcionam aqui", disse Bogdanov.

"Temos comunicação adequada com o presidente, as nossas relações são normais", completou.

De acordo com a Grande Loja Unida da Inglaterra, que abriu a Maçonaria Especulativa em 1717, existem também grandes lojas reconhecidas internacionalmente na Letônia, na Estônia, na Lituânia e na Moldávia.

Em maio passado, o Hermitage de São Petersburgo presentou uma exposição de centenas de artigos maçônicos russos, que atraiu atenção internacional.

Com suas luzes e suas sombras, seus momentos de perseguição e aumento de influência, a maçonaria sempre desempenhou um papel especial na vida russa.

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