Tem sido notório, no seio das Lojas, muitos Irmãos manifestarem o seu total descontentamento com a rotina improdutível das sessões.
Calendários, isso quando existem, demonstrando total falta de planeamento, principalmente, no que se refere à parte cultural das sessões, reflectindo uma forte tendência para nos tornarmos um “clube de serviços”, perdendo de vez o nosso cunho iniciático.
Saudoso, recordo-me quando fui recebido nas fileiras maçónicas, de ter encontrado irmãos valorosos, enciclopédias ambulantes, que, ao fazerem uso da palavra, roubavam a atenção de olhares e ouvidos.
Em breves oratórias enchiam o ambiente de vasto saber, estimulando-nos à pesquisa e ao estudo, dando-nos orgulho de pertencer à Loja e à instituição e fazendo-nos contar os dias para a próxima reunião.
Perplexos, hoje, assistimos a ocupantes de cargos de Vigilantes, lamentavelmente mal preparados para a função, cometerem os maiores absurdos ritualísticos – decerto, mais preocupados em ser o próximo Venerável do que darem instrução, o que seria a sua principal função.
Mal se dão ao trabalho de lerem a instrução que ousam passar aos Irmãos, atropelando a sua pontuação e impossibilitando o seu entendimento.
Se não conseguem transmitir o que está escrito, seria muita pretensão da minha parte esperar que os mesmos extraiam os ensinamentos contidos nas suas entrelinhas. Pior ainda, nem sequer preparam comentários e/ou indicam livros aos Aprendizes e Companheiros, para que se possam elucidar sobre o tema.
Pranchas em Loja virou “cabeça de bacalhau”. Até existe, mas você tem visto?
Pois bem. Já ouvi comentários de Irmãos repugnando quando se tem para a Ordem do Dia, uma prancha, o que, no seu entender, pode atrasar o ágape, e isso não é bom! Claro que a confraternização, também, é importante, mas a chamada “Loja Etílica”, aberta após a Sessão, regada a comilanças e bebedeiras e sem hora para terminar, para os que ouso classificar de “pseudo-iniciados”, acaba por ser bem mais importante.
Precisamos de rever os nossos valores.
A evasão de Irmãos na Ordem tem aumentado e o percentual de presença nas sessões diminuído consideravelmente. Muitos candidatos que se iniciam na Maçonaria, muitas vezes, trazem uma bagagem de conhecimentos adquiridos em outras Ordens Iniciáticas, e visam complementá-los com a aprendizagem maçónica. Ao deparar com um total descomprometimento da Loja com o estudo da sua doutrina, desestimulam-se e abandonam-na, levando um conceito errado do que é a Maçonaria, na sua essência.
Temos de lembrar de que somos, fundamentalmente, uma Escola de Iniciação.
Primar pelo estudo da nossa doutrina é básico e colocá-la no teatro das nossas vidas é o que se espera de um verdadeiro Iniciado.
Ao estudarmos os ensinamentos, por exemplo, dos 33 Graus do REAA, notamos quantos conhecimentos estão contidos nas instruções, nas lendas, na ritualística. A cada Grau investido, juramos e comprometemo-nos em sermos melhores. Bastasse, apenas, a prática dos valores ensinados no Grau de Aprendiz para tornarmos feliz a humanidade, pois ao nos transformarmos, logo, transformaríamos o mundo.
Muitos dizem ser fundamental escolher bem os profanos para entrarem na nossa Ordem, o que concordo em número e grau.
Mas quando temos, em Loja, uma maioria descomprometida com os valores da nossa doutrina, o novo irmão, como falamos antes, ávido pelo saber, acaba por abandoná-la decepcionado.
Muito embora, a tendência é de que, o perfil do candidato, se baseie nos valores dessa maioria, sendo mais um a engrossar as fileiras do “clubinho de serviços”, em que pretendem transformar a nossa sacrossanta instituição.
A Maçonaria precisa de se reeducar.
Quando digo a Maçonaria estou a falar do Maçon, pois a Maçonaria somos todos nós. Reeducarmo-nos como Irmãos, como cidadãos e como iniciados.
Precisamos despojar-nos das vaidades, de querer ser Venerável, Grão-Mestre, ou ostentar qualquer cargo, em que o falso brilho da alfaia nos é bem mais interessante do que a realização dos deveres inerentes.
(EDITADO)
Este texto não visa criticar a realidade de algumas Lojas (por sinal a grande maioria) e, por consequência, da Potência/Obediência a qual esteja jurisdicionada, e sim, a levar-nos a uma profunda reflexão sobre como poderemos agir para reverter este quadro. Toda a transformação deve ter início dentro de nós, para que os seus reflexos possam materializar-se nas nossas acções e transformar o meio em que vivemos.
Caro irmão que lê estas despretensiosas linhas que, orgulhosamente, ocupam o espaço deste nobre informativo, permita-se pensar que a nossa causa, como Maçon, é nobre e a oportunidade de se participar de uma Escola de Iniciação, muito mais ainda, por isso ser para poucos.
Atente para a grande responsabilidade que lhe cabe, como iniciado, com o seu aprimoramento espiritual.
Posteriormente, escolha entre ser parte da solução ou parte do problema. Assim, no silêncio da sua consciência, entenderá, nas entrelinhas, a resposta para quando lhe perguntarem: ”O que vindes fazer aqui?”
Adaptado de Texto escrito por Francisco Feitosa, M∴ I∴, 33º
Membro da ARLS Rui Barbosa nº 46 – GLMMG – Grande Inspector Litúrgico da 14ª MG – Editor da Revista Arte Real
Comentários
Postar um comentário