Antes de tentarmos entender o Rito Escocês Antigo e Aceito, faz-se necessário abordarmos aquele que lhe serviu de berço – O Rito de Heredom ou Rito de Perfeição.
Através de estudos, foi-nos possível compilar as suas peculiaridades, porém estamos certos que, ainda, encontramo-nos muito longe de esgotar toda a sua história.
Este trabalho é, apenas, um atrativo, para que o leitor se encaminhe na sua pesquisa e, consequentemente, entenda a origem dos Altos Graus maçônicos.
Entre as lendas do início das origens dos Altos Graus, aparece o Cavaleiro de Ramsay (André-Michel Ramsay – 1686-1743), homem erudito, nascido na Escócia, partidário dos Stuarts, protegido do Bispo de Fenelon, com ligações em todas as cortes da Europa, ao qual se atribui ter sido o inspirador da criação dos Graus Superiores e ter ajudado a elaboração dos Graus Simbólicos.
O seu famoso discurso, escrito em 1737, mas que, talvez, nunca tenha sido lido em qualquer Loja, ou apresentado em qualquer assembleia de Maçons, podendo, até, ser apócrifo, segundo alguns autores, pois acredita-se que haja, pelo menos, quatro versões do mesmo, foi distribuído, fartamente, em todas as Lojas da França e países vizinhos.
Neste documento, Ramsay faz a apologia de que a Maçonaria seria originária dos Templários, o que não é verdade (grifo do blog); tece comentários, pela primeira vez, enfatizando hierarquia na Ordem; proclama o ideal maçônico na Fraternidade e num mundo sem fronteiras, tentando impingir uma falsa antiguidade e nobreza à Maçonaria (grifo do blog).
Fez uma proposta às Lojas inglesas, para acrescentarem mais três Graus aos já existentes (Mestre Escocês, Noviço e Cavaleiro do Templo). A Maçonaria inglesa rejeitou.
Estes três Graus teriam sido, segundo Ragon, criados por Ramsay.
Fez uma proposta às Lojas francesas, para que se acrescentassem mais sete Graus Suplementares. Também, não foi aceito. Mas, de qualquer forma, a partir daí, começaram as introduções templárias e rosacrucianas, e os Altos Graus começaram a aparecer. Muitos autores não aceitam este fato, rejeitam a participação de Ramsay. Entretanto, outros, como Ragon, apoiam-na.
Segundo Paul Naudon, o fato mais importante, acontecido após o polêmico discurso de Ramsay, foi a criação do Capítulo de Clermont pelo Cavaleiro de Bonneville, em 1754.
Os Irmãos, que criaram este Corpo, pretendiam continuar os mesmos princípios da Loja de Saint-Germian-en-Laye, fundada muito tempo antes, ou seja, praticar os Altos Graus, criando sete Graus e opondo-se à política da Grande Loja da França, a qual seria, posteriormente, dissolvida em 24 de Dezembro de 1772.
O Capítulo de Clermont teve uma duração efémera, mas valeu pelas consequências, pois uma das suas ramificações, através de Pirlet, em Paris, em 1758, criou o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente da Grande e Soberana Loja Escocesa de São João de Jerusalém, a qual foi a mais importante das potências escocesas, no século XVIII, organizando um Rito chamado Rito de Perfeição ou de Heredom.
Em 1761, o Conselho de Imperadores teria fornecido, através do Irmão Chaillon de Joinville, substituto Geral da Ordem, e mais oito Irmãos da alta hierarquia, que, também, teriam assinado o documento, uma patente constitucional de Grande Inspetor do Rito de Perfeição ao Irmão Etienne ou Stephen Morin, autorizando-o a estabelecer e perpetuar a Sublime Maçonaria em todas as partes do mundo e investindo-o de poderes de sagrar novos Inspetores.
Foi criado um sistema de Altos Graus, impondo-lhe o limite de 25, resolução, que seria, oficialmente, inscrita nos seus estatutos, segundo Mellor, em 1762. Neste ano, sob os auspícios desse Conselho, foram publicados os Regulamentos e Constituição da Maçonaria de Perfeição, elaborados por nove comissários (Constituição de Bordeaux, em 21 de setembro de 1762).
Os seus membros, conhecedores de várias tradições místicas e gnósticas antigas, trouxeram para este Corpo Maçônico as influências templárias, rosacrucianas e egípcias, além de se dizerem herdeiros dos Ritos de Clermont e das correntes escocesas de Kilwinning e Heredom. Estava, assim, decretada a influência esotérica na Ordem.
Chegado à colônia francesa de São Domingos (hoje, Haiti), no mesmo ano, pôs-se a trabalhar.
Há fortes suspeitas de que esse documento seja fraudulento. Também, segundo muitos autores, Etienne teria comercializado esses Altos Graus.
Na realidade, o Rito de Perfeição ficou muito mal trabalhado durante mais ou menos trinta anos. Foi esquecido o seu conteúdo esotérico e a sua ritualística muito mal usada.
Mas, de qualquer forma, os americanos aceitaram muito bem o Rito e ainda acharam que os vinte e cinco Graus eram insuficientes para abranger toda a iniciática maçônica.
Morin teria entregado certificados ou carta patente a outros Irmãos, e um deles foi um Irmão de nome Henry A. Francken, também, de origem judaica, que teria estabelecido o Rito em Nova York. Outro grupo introduziu o Rito em Charleston, em 1783.
Na mesma colônia francesa de São Domingos (Haiti), alguns anos mais tarde, apareceram os maçons, o Conde Alexandre François Auguste de Grasse Tilly e o seu sogro Jean Baptiste Delahogue, os quais, posteriormente, em 1793, mudaram-se para Charleston.
Grasse Tilly já tinha pensado em fundar um Supremo Conselho nessa cidade. Lá encontraram mais dois Maçons: Frederik Dalcho e John Mitchel.
A Maçonaria norte-americana, ainda era muito incipiente, pois a sua história tinha menos de 30 anos. Este rito foi chamado de Rito de Perfeição, ou de Heredom. Tanto é verdade, que o rito, cujo primeiro Supremo Conselho foi criado em 1801, em Charleston, Carolina do Sul, EUA, foi chamado, inicialmente, de Rito dos Maçons Antigos e Aceitos (apenas), com 22 graus, os do Rito de Perfeição, ou de Heredon.
E são os seguintes os graus do Heredom:
PRIMEIRA CLASSE
- Aprendiz
- Companheiro
- Mestre;
SEGUNDA CLASSE
- Mestre Eleito
- Mestre Perfeito
- Secretário Íntimo
- Intendente dos Edifícios
- Preboste e Juiz;
TERCEIRA CLASSE
- Mestre Eleito dos Nove
- Mestre Eleito dos Quinze
- Ilustre Eleito das Doze Tribos;
QUARTA CLASSE
- Grande Mestre Arquiteto
- Cavaleiro do Real Arco
- Grande Eleito, Antigo Mestre Perfeito;
QUINTA CLASSE
- Cavaleiro da Espada ou do Oriente
- Príncipe de Jerusalém
- Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
- Cavaleiro Rosa- Cruz;
SEXTA CLASSE
- Grande Pontífice, ou Mestre Ad Vitam
- Grande Patriarca Noaquita
- Grande Mestre da Chave da Maçonaria
- Príncipe do Líbano ou Real Machado;
SÉTIMA CLASSE
- Cavaleiro do Sol, ou Príncipe Adepto, Chefe do Grande Consistório
- 24. Ilustre Cavaleiro Grande Comendador da Águia Branca e Negra, Grande Eleito Kadosh
- Mui Ilustre Soberano Príncipe da Maçonaria, Grande Cavaleiro Sublime Comendador do Real Segredo.
Qualquer semelhança com o R∴ E∴ A∴ A∴ não é mera coincidência!
A decadência do Rito de Perfeição, com 25 graus, a partir do ano de 1771, perdendo caoticamente a sua forma original no hemisfério Ocidental, fez com que, em 1795, dois franceses, sogro e genro, que chegaram a Charleston, Carolina do Sul, USA, Alexander Francisco – Conde Crasse de Rouville, Marques de Tilly e João Batista Noel Maria De La Hogue tomando como base legal a Constituição Maçônica, promulgada em 1786, pelo rei Frederico II da Prússia [NT], e contando com auxílio de diversos deputados franceses e alemães, criassem os novos graus do Rito.
Existem autores que afirmam que Dalcho teve a ideia de criar mais oito Graus, enquanto outros sustentam que, o último Grau, Grasse Tilly criou.
Que este breve texto sirva de incentivo aos praticantes do REAA a pesquisarem mais sobre a origem do Rito e, posteriormente, colocassem em pauta as diversas alterações que, quase que diariamente, são impostas, por “achismo”.
Autor: Francisco Feitosa
Fonte: Freemason
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