Segundo o livro de Gênesis, na noite em que Jacó descobriu que Deus ligaria o Céu à Terra novamente, ele dormiu com a cabeça recostada a uma pedra, que usou como travesseiro (Cap. 28:11-18).
Quando acordou, Jacó decidiu usar a mesma pedra para fazer uma coluna, uma espécie de altar improvisado, sobre o qual ele derramou azeite, num gesto simbólico para mostrar sua adoração ao Deus que se revelara a ele.
A pedra (figura de Jesus em diversas passagens do Velho Testamento) não se amoldou à cabeça de Jacó, assim como não dá para amoldar a Palavra de Deus à nossa mente.
Mas nosso contato com ela deixa colunas, marcos importantíssimos e decisivos em nossa caminhada.
Certamente há pontos na Bíblia que não se moldam à mentalidade moderna do homem. Mas, faça como Jacó: conviva com a Pedra e ela se tornará uma referência importantíssima na sua vida.
Aquela pedra que era um problema na vida de Jacó virou um travesseiro para ele descansar em Deus, foi motivo de um sonho para ele ver Deus trabalhar em sua vida e também um altar de adoração ao Senhor.
O Mito da Escada de Jacó na Maçonaria
A escada de Jacó é um dos temas mais fantasiosos no pseudo-simbolismo maçônico.
Melhor dizendo: as interpretações dessa famosa escada são mitos que passaram de geração em geração.
Antes de qualquer coisa, precisamos saber quem foi Jacó e o que é uma escada em termos alegóricos. Jacó era filho de Isaac e conseguiu enganar o pai fazendo-se passar pelo irmão primogênito.
Assim, recebeu a bênção paterna nesses termos: “Que Deus te conceda o orvalho do céu e a fertilidade da terra, trigo e vinho em abundância. Sirvam-te povos e prostrem-se diante de ti nações; sê um senhor de teus irmãos e diante de ti prostrem-se os filhos de tua mãe. Maldito quem te amaldiçoar e bendito quem te abençoar”.
E prossegue Isaac dizendo: “Não cases com nenhuma das moças de Canaã. Vai a Padã-Aram, e casa-te lá com uma das filhas de Labão, irmão de tua mãe. Concedo-te a bênção de Abraão, a ti e à tua descendência, a fim de possuíres a terra em que vives como estrangeiro.”
Prosseguindo: “Jacó saiu de Bersabéia e, ao se dirigir para Harã, alcançou um lugar onde se dispôs a passar a noite, pois o sol já se havia posto. Pegou uma das pedras do lugar, colocou-a como travesseiro e dormiu. Então, teve um sonho: Via uma escada apoiada no chão e com a outra ponta tocando o céu. Por ela subiam e desciam os anjos de Deus. No alto da escada estava o Senhor que lhe disse: ‘Eu sou o Senhor, Deus de teu pai Abraão, o Deus de Isaac. A ti e a tua descendência darei a terra sobre a qual estás deitado. Tua descendência será como o pó da terra e te expandirás para o ocidente e para o oriente, para o norte e para o sul. Em ti e em tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra. Estou contigo e te guardarei aonde quer que vás, e te reconduzirei a esta terra. Nunca te abandonarei até cumprir o que te prometi”.
Ao despertar, Jacó disse consigo: “Como é terrível este lugar! Sem dúvida o Senhor está neste lugar e eu não sabia. Isto aqui só pode ser a casa de Deus e a porta do céu”.
Atemorizado, levantou-se, tomou a pedra que lhe servira de travesseiro, e a erigiu em estela (monumento monolítico feito em pedra), derramando óleo por cima e chamando ao lugar de Betel (Casa de Deus). Jacó fez um voto, dizendo: “Se Deus estiver comigo e me proteger nesta viagem, dando-me pão para comer e roupa para vestir, e se eu voltar são e salvo para a casa de meu pai, então o Senhor será meu Deus. Esta pedra que erigi em estela será transformada em casa de Deus e dar-te-ei o dízimo de tudo que me deres”.
Aí está a origem e o significado da escada “de Jacó” que não é nem escada, nem “de Jacó”.
Foi uma visão tida em sonhos de algo apoiado no chão e com a outra ponta tocando o céu.
Em sonhos, repito, Jacó percebeu anjos de Deus que subiam e desciam.
Mas Jacó não subiu nem desceu pela escada, pois, como ele mesmo disse amedrontado, aquele lugar era terrível, sem dúvida a casa de Deus e a porta do céu (o terribilis est locus iste latino).
Jacó não ousou prosseguir porta adentro nem subir escada acima.
Apenas tomou a pedra que lhe servira de travesseiro e fez dela um altar comemorativo daquele acontecimento.
E partiu dali ao encontro de Labão, “pai de Raquel serrana bela” – conforme versejou Camões – “Mas não servia ao pai, servia a ela, e a ela só por prêmio pretendia.
Porém o pai, usando de cautela, em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos lhe fora assim negada a sua pastora, começa de servir outros sete anos, dizendo: — Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida!”
De onde os criadores da Maçonaria tiraram a interpretação de que a “escada de Jacó” significa a ascensão nos Graus?
Que maçons são esses que ousaram subir pela escada do local terrível, atravessarem a porta do céu, proeza da qual Jacó jamais pensou em realizar?
Não se pretende escarafunchar toda a literatura maçônica para provar que vê na escada “de Jacó” a representação da “hierarquia dos seres, potestades, mundos e reinos de vida”.
A escada de catorze degraus em Maçonaria é outra coisa, assunto de outros ritos que não o escocês e outros Graus que não os simbólicos.
Portanto nem toda escada deve ser confundida com a do sonho de Jacó.
Para complicar ainda mais as coisas, uma indevida simbiose com a Teologia Católica misturou o sonho de Jacó (hebreu) com as Virtudes Teologais apregoadas, pela primeira vez na História, por Santo Ambrósio de Milão, Santo Agostinho de Hipona, São Tomás de Aquino e São Roberto Belarmino.
Essa interação entre simbolismo maçônico e elementos da fé cristã (notadamente a Católica Apostólica Romana) nasceu da tentativa de estabelecer um diálogo entre a fé e a razão.
Mas não consta que esses Santos tenham subido a escada “de Jacó” nem que tenham sido iniciados na Maçonaria. Sinto decepcioná-los...
Continuar batendo nessa mesma tecla (ou nessa mesma escada) é andar em círculos por desconhecer a História e a própria Maçonaria.
A escada que aparece num dos painéis do Grau não é a escada dos sonhos de Jacó, embora muitos artistas inflamados delirem ao desenhar anjos no topo da mesma.
A escada do painel, que de forma alguma deve constar da decoração das Lojas, pendurada no teto, é uma alegoria referente à elevação moral do homem, e não à caminhada em direção à morada do Altíssimo.
A Maçonaria, não sendo uma religião, há de permanecer à margem de quaisquer sectarismos.
Um muçulmano, por exemplo, não verá o Jacó hebreu numa escada nem as virtudes cardinais de São Tomás de Aquino.
Um budista menos ainda!
Mas todas as religiões entenderão a escada como elevação, valoração e crescimento humanos. De volta à Escada e à Abóboda do Templo.
Este artigo não representa a palavra oficial de nenhuma Loja, Potência ou Corpo Maçônico.
Comentários
Postar um comentário