A práxis maçônica


Vivendo como vivemos, em tempos tumultuosos, é necessário que a Maçonaria adote uma postura proativa frente ao cenário de mudanças em todo o mundo que está a exigir novos paradigmas no relacionamento intersocial. 

O arcabouço teórico vem sendo consolidado desde o Iluminismo, quando surgiu a Maçonaria moderna. A influência do pensamento maçônico tem sido uma constante em momentos decisivos da história desde então. 

De 1717 até hoje, a Maçonaria mostrou-se ora progressista, ora conservadora, dependendo da perspectiva que se observa, mas sempre na defesa de seus postulados. Nesse interregno, o contributo de seus membros na busca de uma sociedade mais livre, mais igualitária e mais fraterna tem sido prolífica.

Não obstante, as ferramentas utilizadas pelos artífices da Ordem nem sempre se mostram adequadas para modelar os materiais forjados a partir de novos valores que estão a rearranjar o universo social contemporâneo e que colocam o mundo de ponta-cabeça. O grande desafio nesse Terceiro Milênio é adaptar os instrumentos da Arte Real, concebidos a partir de uma tradição, muitas vezes imemorial, às exigências da conjuntura atual.

É PRECISO CONHECER A HISTÓRIA

Antes disso, porém, os Obreiros precisam conhecer a história da Maçonaria para dela extraírem o referencial teórico que embasa toda a doutrina maçônica e se tornarem convictos do potencial disponível para tornar feliz a humanidade. Mais que isso, o primeiro passo é reinterpretar a história. Christopher Hill, historiador inglês de renome, ensina, em sua excelente obra O Mundo de Ponta- Cabeça, que “a história precisa ser reescrita a cada geração, porque embora o passado não mude, o presente se modifica; cada geração formula novas perguntas ao passado e encontra novas áreas de simpatia à medida que revive distintos aspectos das experiências de suas predecessoras. E a interpretação variará segundo as nossas atitudes, segundo o que vivemos no presente”.

Não é de hoje que o mundo está de ponta-cabeça. 

As convulsões sociais são objeto de reflexão por pensadores de todos os tempos. Filósofos como Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau, o primeiro no século XVII e o segundo no XVIII, deixaram contribuições imprescindíveis para a análise do comportamento social. Ambos sustentam que a sociedade tem por base um pacto social. 

Em O Leviatã, de 1651, Hobbes parte do princípio de que o homem, buscando a autopreservação, é capaz de dizimar o próprio homem. 

E, por medo, deixa o estado de natureza e cria a sociedade. Já Rousseau, no seu Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, de 1755, defende que o homem no estado de natureza é bom e a sociedade o corrompe. 

Em 1762, em O Contrato Social, Rousseau constrói a sua teoria da unanimidade reencontrada, que influencia o pensamento político e social desde então. Logo no primeiro parágrafo do capítulo I, Rousseau escreve a frase que é símbolo de seu pensamento: “O homem nasceu livre e por toda parte ele está agrilhoado”.

Á primeira vista os pensamentos se apresentam paradoxais. Entretanto, os cenários descritos por Hobbes e Rousseau coexistem em todas as sociedades quando analisadas em suas inúmeras facetas. Por um lado, os males sociais permanentes, como a insegurança, a corrupção, o vandalismo etc. levam a acreditar que estamos num mundo hobbesiano em que prevalece a selvageria. 

Por outro lado, ao se observar o desenvolvimento tecnológico, os avanços da medicina, o aumento da expectativa de vida, o estado de direito e a preservação das garantias individuais existentes em alguns países mais desenvolvidos, vislumbra-se a sociedade ideal rousseauniana.

Marshall Berman, se encarregou de esclarecer, em um livro pujante, a ideia de Karl Marx, exposta no Manifesto Comunista, de 1848, de que “tudo que é sólido desmancha no ar”. 

A obra do professor americano, escrita originalmente em 1982, cujo título é idêntico à famosa frase de Marx e tem como subtítulo A aventura da modernidade, mostra em detalhes a sociedade em constante mudança e a necessidade de instrumentos sociais e culturais cada vez mais aperfeiçoados para a busca de material consistente que não deixe desmoronar as boas edificações humanas. 

Nas palavras de Francis Foot Hardman, que apresentou a edição brasileira, “Berman constrói um painel vertiginoso e lúcido dos tempos modernos, combinando com maestria a melhor tradição da crítica literária com um desvendamento histórico preciso da sociedade e da cultura nos séculos XIX e XX”.

De início, logo no prefácio, Berman já diz a que veio: “Neste livro, tentei descortinar algumas das dimensões de sentido, tentei explorar e mapear as aventuras e horrores, as ambiguidades e ironias da vida moderna”. O professor americano, nascido no Bronx, em Nova York, se vale de pessoas e obras literárias para interpretar a modernização. Diz que todos são movidos, “ao mesmo tempo, pelo desejo de mudança – de autotransformação e de transformação do mundo em redor – e pelo terror da desorientação e da desintegração, o terror da vida que se desfaz em pedaços”. Mas ele não se intimida, e percorre toda a aventura da modernidade em busca de uma saída. 

Reinterpreta a tragédia do desenvolvimento e esclarece o seu entendimento de Modernismo e Modernização. Tece considerações sobre o Modernismo nas ruas e analisa o Modernismo do Subdesenvolvimento.

Lembrando que sua aventura de reinventar o Modernismo se deu ainda no século XX, destaca-se que Berman lançou seu pensamento à frente, defendendo que ao reinterpretar e “lembrar os modernistas do século XIX talvez nos dê a visão e a coragem para criar os modernistas do século XXI”. Ressalte-se que Berman designa “modernidade” o conjunto de experiências “de tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida – que são compartilhadas por homens e mulheres em todo o mundo”.

A DOUTRINA MAÇÔNICA

É nesse mundo complexo e plural que a Maçonaria se dispõe a atuar. O século XVIII assistiu ao seu nascimento, embalado pelas ideias iluministas. Os ventos da liberdade, da igualdade e da fraternidade sopraram em todas as direções e acabaram tremulando as birutas da América Latina em geral e do Brasil em particular.

A partir dessa perspectiva, devemos analisar algumas ideias que de forma intermitente e muitas vezes sutil têm permeado o pensamento maçônico para a edificação do seu ideário comportamental. 

As Constituições dos Franco-Maçons, de Anderson, trazem tanto imposições políticas em suas entrelinhas, como também explícitos ditames de comportamento ético. A proibição de não se discutir política nas reuniões maçônicas é uma atitude eminentemente política. 

E se coaduna com a prescrição de respeito às leis e aos governos que as ditam, embora aquelas nem sempre sejam justas. Mais elegante que isso é o código de conduta inserido em suas Obrigações. 

As Constituições, cuja primeira edição data de 1723, ensinam ao Maçom como se comportar dentro de Loja e fora dela, em casa e na vizinhança, enfim, na sociedade. Trazem também a mais acertada definição da Ordem ao insculpir em suas páginas que a Maçonaria é o “Centro de União, e o meio de firmar uma amizade sincera entre pessoas que teriam ficado perpetuamente distanciadas”.

Dessa amizade sincera adveio a fraternidade e a união permanente em busca da igualdade e da liberdade. 

Pode-se, apropriadamente, parafrasear e ampliar o pensamento de Jean-Paul Sartre, dizendo que o Maçom está condenado à liberdade, à igualdade e à fraternidade desde então. 

Para revisitar, com graça, o pensamento de Sartre, pode-se recorrer a O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, acompanhando a personagem do romance da história da filosofia que em um desses cafés à moda francesa, “com mesinhas redondas, cadeiras pretas e garrafas viradas de cabeça para baixo sobre dispositivos para dosagem automática de bebidas”, aprende que o homem está condenado à liberdade “porque não se criou e, não obstante, é livre. 

E uma vez atirado ao mundo, passa a ser responsável por tudo que faz. Somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida”. Assim, a liberdade está aí, à disposição de todos. Mas muitos não a veem e permanecem na escuridão. A Maçonaria ensina que se deve direcionar o olhar para a luz, exatamente em busca de um mundo melhor.

A INSERÇÃO SOCIAL E POLÍTICA DA MAÇONARIA

Ao passar a vista na linha do tempo dessa senda, pode-se constatar a influência da Maçonaria. Caminhando com José Castellani, no seu compacto e instrutivo “A ação secreta da Maçonaria na política mundial”, de 2001, observa-se a mão de membros da Ordem na Restauração dos Stuarts, na Independência dos Estados Unidos da América, na Revolução Francesa, na Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial e em muitos outros movimentos que mudaram a face da sociedade mundial.

No Brasil, os Livres-Pensadores de fins do século XVIII e início do XIX ousaram pensar a liberdade e deram o Grito da Independência. Quiseram uma monarquia constitucionalista e foram frustrados com a prática absolutista daquele que escolheram para os representar: Dom Pedro I. Quase setenta anos após, os Franco-Maçons do final do século lutaram pela igualdade e conseguiram a Abolição da Escravatura. Logo em seguida, em 1889, proclamaram a tão sonhada República. O caminho, porém, foi entremeado de obstáculos. Muitas vezes foi necessário subverter a ordem vigente. 

Outras, houve exageros que não devem ser analisados sem considerar o espírito da época. No afã de atingir seus nobres objetivos, alguns Irmãos se empenharam de forma não politicamente correta. 

Para ilustrar, segue-se a transcrição de um episódio resgatado por Laurentino Gomes, em seu recente 1889:

“Em São Paulo, um grupo mais radical chamado ‘Os Caifazes’, liderados pelo advogado republicano e maçom Antônio Bento, promovia a fuga em massa dos escravos, surrava os capitães do mato contratados para recapturá- los, ameaçava os fazendeiros e feitores acusados de maus-tratos. Sob a proteção desse grupo, foi organizado o mais famoso quilombo da época, o do Jabaquara. Situado nas imediações das cidades de Santos e Cubatão, na baixada santista, chegou a reunir 10 mil escravos fugidos.

Na Primeira República, ou República Velha, que compreende o período de 1889 a 1930, a Maçonaria foi onipresente, prolongando a sua influência na organização da sociedade e do Estado brasileiro. A partir de então começa uma decadência em suas ações explícitas e a sua influência real nos destinos da nação fica por conta de atos individuais e esparsos. 

Deve-se levar em conta, entretanto, que o potencial de inserção na sociedade continua latente. Embora de forma tímida, a participação na redemocratização do país nas últimas décadas, a defesa da Amazônia, o engajamento na luta contra as drogas, credencia a instituição maçônica a alçar voos mais altos em favor da sociedade brasileira.

PRÁXIS MAÇÔNICA

A reformulação da metodologia para a formação de seus Obreiros constitui-se em princípio basilar que contribuirá sobremaneira para a construção de um edifício cultural, moral e ético mais consolidado e compatível com o mundo contemporâneo do que a prática obsoleta de deixar por conta do autodidatismo e de instruções exclusivamente simbólicas e ritualísticas que são repetidas cansativamente nas Lojas Maçônicas. 

É imprescindível dar um salto de qualidade, avançar para o pós- modernismo, adotar didáticas construtivistas e contextualizar os ensinamentos maçônicos, valendo-se da sabedoria tradicional e esforçando-se para traduzir essa sabedoria em linguagem que seja atrativa para as mentes que anseiam uma renovação nos programas e projetos planejados para os dias de hoje. 

Desde o início, a Maçonaria moderna se proclama “um sistema e uma escola não só de moral, mas de filosofia social e espiritual, reveladas por alegorias e ensinadas por símbolos, guiando seus adeptos à prática e ao aperfeiçoamento dos mais elevados deveres do homem, cidadão e patriota”. 

Isto é, o Maçom é preparado para atuar na sociedade, aplicando a doutrina que lhe é revelada nas Lojas. É preciso muito mais. 

O reordenamento da doutrina e dos ensinamentos maçônicos para os novos tempos, considerando o avanço das ideias, a globalização, a existência das redes sociais, e a universalidade do conhecimento, que não se restringe mais às poucas instruções ministradas pelos Mestres Maçons aos Aprendizes e Companheiros.

O Planejamento Estratégico deve fazer parte dessa preparação para dar novos rumos à Maçonaria. Técnicas modernas de definição de cenários futuros, planejamentos de gestão de longo prazo ou de implementação de projetos e programas deve nortear uma boa administração maçônica. 

E isso é aplicável em todos os níveis: local, regional ou nacional. 

As Lojas, Obediências regionais, Altos Corpos ou Potências nacionais, podem envidar esforços para definirem ou revisarem sua missão, visão e valores

A partir daí, a constatação de fatores críticos de sucesso vão permitir que a instituição escolha o caminho mais adequado para se situar em um mundo que a cada dia espera mais de organizações que se pretendem defensoras de comportamentos virtuosos.

Também o arcabouço jurídico das instituições maçônicas não pode ser um empecilho para o avanço das ações sociais da maçonaria e a atuação livre de seus membros. Principalmente os Códigos Maçônicos – Penais, Processuais e outros – estão a merecer uma reflexão. São heranças dos primórdios da estruturação da Maçonaria e, em nosso país, são cópias dos Códigos do Judiciário brasileiro. A Maçonaria não necessita, nem é instância adequada para realizar julgamentos e infligir penas a seus membros. 

Deve-se pensar na elaboração de um Código de Ética para nortear o comportamento dos adeptos, premiá-los por suas boas ações e repreendê-los quando constatados desvios de conduta. 

No máximo, como uma associação da sociedade civil, excluí-los de seus Quadros. Nunca condená-los. Isso é competência do Poder Judiciário, brasileiro!

Avançar para além do pensamento da Idade Moderna, berço da Maçonaria, também deve ser um objetivo permanente de todos os Maçons. Um bom caminho é pensar filosoficamente.

André Comte-Sponville nos ajuda neste particular ao definir a Filosofia como “uma prática teórica (mas não científica), que tem o todo por objeto, a razão por meio e a sabedoria por fim. Trata-se de pensar melhor, para viver melhor”.

Luc Ferry vai mais além quando nos ensina que “para todo indivíduo, é valioso estudar ao menos um pouco de filosofia, nem que seja por dois motivos bem simples. O primeiro é que, sem ela, nada poderemos compreender do mundo em que vivemos. Além do que se ganha em compreensão, conhecimento de si e dos outros por intermédio das grandes obras da tradição, é preciso saber que elas podem simplesmente ajudar a viver melhor e mais livremente”.

Esses dois pontos de vista parecem ter sido escritos para servir de paradigma para a Maçonaria de hoje. É fácil encontrar em inúmeras constituições, regulamentos gerais e outros documentos maçônicos a definição de que “a Maçonaria é uma instituição essencialmente iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista, cujos fins supremos são a liberdade, a igualdade e a fraternidade”. 

Nos Rituais é incansavelmente repetido que os Maçons devem levantar Templos à Virtude e cavar masmorras ao Vício. 

Todos esses princípios denotam uma postura filosófica de conduta ética para organizar a sociedade em bases sólidas para um viver melhor.

Após esse período imprescindível de preparação, o Iniciado estará apto a trilhar a senda da realidade. 

Os movimentos sociais em ebulição no mundo e no Brasil não reservam lugar para os despreparados. 

Como ficou ressaltado inicialmente, os instrumentos foram confeccionados desde longa data. 

Resta burilá- los e adaptá-los a um mundo degradado eticamente. 

Não que esse cenário seja privilégio de hoje. Mas se o Maçom não estiver atento à missão que lhe foi confiada, vai ter a sensação de ele próprio estar de ponta-cabeça. 

Esta é uma característica do mundo dialético sempre em evolução e revolução. A única coisa permanente é a mudança.

Neste contexto, a ação da Maçonaria deve ser sempre pacífica. 

A Ordem do Grande Arquiteto do Universo, como a define José Antônio Ferrer-Benimeli, é uma instituição que se destaca como progressista, mas que tem primado pelo método evolutivo. 

O modus operandi de uma “revolução pacífica” pode ser aprendida com grandes personalidades que agiram eticamente e sem o uso da violência para transformar o mundo. 

Mahatma Gandhi e seu pacifismo derrubaram o imperialismo inglês na Índia. Martin Luther King sonhou com uma sociedade igualitária e foi ouvido pelas multidões.

João Paulo II, o Papa em iminência de se tornar santo, neutralizou as alas mais radicais da Igreja Católica que, inspiradas no Movimento Comunista Internacional, idealizaram e quiseram pôr em prática a materialista Teologia da Libertação. 

O grande líder Nelson Mandela acabou com o apartheid na África do Sul e perdoou todos os seus algozes.

Ademais, não se deve esquecer que a Ordem Maçônica é dualista e em seus postulados proclama a prevalência do espírito sobre a matéria. 

Talvez Deus esteja morto, para alguns, como defendeu Friedrich Nietzsche na Gaia Ciência e reafirmou em Assim falou Zaratustra. 

Mas nenhum Maçom se empenha em empresa importante sem antes invocar o Grande Arquiteto do Universo, como ensinam os Rituais da Ordem.

Mesmo não sendo uma religião, pois não tem como fim a salvação da alma, a Maçonaria tem sua religiosidade e preconiza que “um Maçom é obrigado, por sua condição, a obedecer a Lei moral; e se compreende bem a Arte, não será jamais um Ateu estúpido, nem um Libertino irreligioso”, para citar mais uma vez as “Constituições de Anderson”.

Desde o início de seus ensinamentos até os últimos Graus, a doutrina da Arte Real desvela a Maçonaria- Força e a Maçonaria-Espírito. 

A verdadeira Cruzada a ser defendida é aquela que busca o amor, o aperfeiçoamento dos costumes, a tolerância, o respeito à crença de cada um. 

A Maçonaria-Força e a Maçonaria-Espírito devem ser colocadas a serviço desse bem maior. 

Essa é a grande guerra que deve ser travada pelos cidadãos Iniciados Maçons.

A epígrafe de “lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado” é uma ênfase metafórica. Quer dizer que o Maçom deve “gritar mais alto” para atingir seu objetivo de tornar feliz a humanidade. Deve ser intransigente na busca da verdade. Deve ser superlativo na defesa do direito e da justiça. Não deve transgredir, em hipótese alguma, seu código de vida.

CONCLUSÃO – UMA PROPOSTA

Este é um ensaio despretensioso, que busca apenas despertar nos Irmãos a vontade de agir em face de um mundo de ponta-cabeça. Espera-se que contribua para a reflexão daqueles que pretendem se aprofundar no assunto.

Ouso firmar, entretanto, com base nas ideias acima expostas, um conjunto de objetivos que buscam traduzir uma práxis maçônica de caráter eminentemente ético, na esperança de sensibilizar Maçons dos três maiores segmentos da Maçonaria do Brasil (Grande Oriente do Brasil, Grandes Lojas e Grandes Orientes Independentes). Eis a proposta:

1) Priorizar a educação maçônica com vistas a um melhor entendimento da doutrina e a consequente preparação do Maçom para atuar na sociedade.

2) Instalar núcleos de planejamento estratégico em todos os níveis com o objetivo de definir, ou redefinir, a visão, a missão e os objetivos da Maçonaria, considerando o cenário de degradação ética que se assiste no mundo em constante mudança.

3) Elaborar um Código de Ética Maçônico que permita uma padronização de comportamento do Maçom frente ao desafio de respeitar a tradição e ao mesmo tempo adaptá-la às exigências da atualidade.

4) Resgatar valores éticos, pela prática das virtudes, tais como, polidez, fidelidade, honestidade, prudência, temperança, coragem, justiça, tão desprezados corriqueiramente nas relações sociais de hoje.

5) Desencadear uma Cruzada de conscientização do Maçom no sentido de emular o comportamento iluminista que ainda vigora para ingressar na época pós-moderna em que vivemos.

6) Concitar o Maçom a viver intensamente hoje, substituindo a utopia maçônica de um dia tornar feliz a humanidade pela defesa de que a Maçonaria é uma instituição que torna feliz a humanidade (todos os dias) pelo amor, pelo aperfeiçoamento dos costumes, pela tolerância, pelo respeito à autoridade e à crença de cada um.

7) Ter em mente que para se ter uma sociedade mais livre, mais igual e mais fraterna, cada um deve fazer o melhor em família, na comunidade, na cidade, no País.

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AUTOR - Reginaldo Gusmão de Albuquerque, MI, 33º Secretário da Guarda dos Selos do Grande Oriente do Distrito Federal. 

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