Niilismo é uma corrente filosófica que se popularizou a partir do século XIX.
Seu nome se origina da palavra latina “nihil”, que quer dizer “nada”.
O niilismo se caracteriza por sua total rejeição a valores absolutos, como bem, verdade e justiça.
O niilista é um sujeito desencantado, que não acredita que a vida cotidiana faça referência a nada superior.
No contexto político do século XIX, os niilistas eram aqueles que não eram nem a favor nem contrários à Revolução Francesa.
O termo “niilismo” é de origem incerta, mas muitas vezes foi atribuído a Ivan Turguêniev.
Embora não tenha sido o inventor da palavra, ele foi fundamental em sua popularização.
Em “Pais e filhos”, Turguêniev concebe o personagem Bazárov, que sintetiza o pensamento niilista.
Os niilistas, neste romance, são descritos como aqueles que “não se inclinam perante quaisquer autoridades, que não aceitam sem provas princípio nenhum, por mais respeitado que seja”.
Apesar de ser um crítico do niilismo, Turguêniev ajudou a popularizar a corrente filosófica.
O próprio autor foi taxado de niilista por seus contemporâneos: “Você está apenas fingindo que condena Bazárov; na realidade, você o bajula”.
No século XIX, o niilismo ainda ganharia outro difusor: Friedrich Nietszche. O filósofo alemão apresentou um niilismo radical, recusando toda metafísica e pregando a morte de Deus.
Você pode conhecer a sofisticada crítica de Turguêniev ao niilismo em “Pais e filhos”, livro de dezembro do Clube.
O romance é acompanhado por um texto do próprio autor comentando a recepção de “Pais e filhos” na época de seu lançamento, críticas e elogios que recebeu.
O Niilismo, derivado do latim nihil, “nada”, é um conceito fundamental e imprescindível para compreender o pensamento filosófico dos últimos dois séculos.
ResponderExcluirDe um modo geral, o niilismo, dependendo da perspectiva, pode ser considerando tanto um movimento negativo quanto positivo.
Tratando-se de lados negativo e positivo, no primeiro caso, indica a decadência do homem ocidental cujas origens remontam ao racionalismo socrático, à oposição entre “mundo das Ideias” e o “mundo sensível”, como a consequente depreciação desse último, estabelecida por Platão.
ResponderExcluirTambém, remete ao cristianismo, definido como “platonismo para o povo”, acusado de impor uma moral da renúncia e da submissão e de desvalorizar e mortificar a vida e os seus valores em nome, e na espera, de um ideal transcendente, uma salvação, uma redenção.
ResponderExcluirPor outro lado, o niilismo, quando positivamente avaliado, pode ser utilizado para demolir os ídolos da tradição, desmascarar as falsidades e imposturas dos valores e das verdades tradicionais.
As primeiras ocorrências do termo remontam à Revolução Francesa, quando foram definidos como “niilistas” os grupos “que não eram nem a favor nem contra à Revolução”. De todo modo, o primeiro uso propriamente filosófico do conceito é localizado no final do século XVIII, em uma carta escrita em 1799, de Friedrich Heinrich Jacobi (1743 -1819) a Johann Gottlieb Fichte (1762-1814), na qual o idealismo é acusado de ser um niilismo.
ResponderExcluirTodavia, é com Nietzsche que a reflexão filosófica sobre o niilismo alcança o seu mais alto grau, com um pensamento radical que mostra as origens mais remotas do fenômeno – o platonismo e o cristianismo, e não só diagnostica a doença do nosso tempo como tenta indicar um remédio.
Filósofos indicam que os principais sintomas dessa doença são as sensações de desorientação, insegurança, angustia e tédio. Além disso, destacam, também, que os efeitos colaterais são o desprezo e o ressentimento por tudo que estiver associado ao mutável e ao sensível, tal como o corpo, suas paixões e seus afetos.
ResponderExcluirNiilismo e filosofia
De um modo geral, não é um exagero considerar Nietzsche(1844-1900) o maior profeta e teórico do niilismo. Nietzsche analisou mudanças em crenças e tradições com respeito a um possível sentido da existência, ao qual eles serviam como suporte.
O niilismo é definido de muitas maneiras, mas sua principal característica é a recusa radical de valores e de verdades. Nietzsche argumentava que os “valores supremos” que haviam sido propostos na cultura ocidental e que haviam sido apoiados por tradições filosóficas e religiosas (essencialmente o platonismo e o cristianismo) estavam sendo anulados pelos avanços do pensamento que se inspirava no Iluminismo.
Nietzsche fornece várias definições e classificações taxológicas. Seguindo o ciclo de seu pensamento, podemos identificar três momentos importantes nos quais conta a história do niilismo:
ResponderExcluirComeça com um diagnóstico das sementes do niilismo na Modernidade;
Passa para um prognóstico do niilismo radical ao longo dos dois séculos que virão;
Termina com a superação do niilismo, esboçada por uma série de princípios condutores.
Diagnóstico do niilismo
ResponderExcluirO niilismo ocorre quando todos os valores supremos anteriormente existentes se tornam desvalorados ou desvalorizados. Para Nietzsche, o pensamento moderno produziu as sementes para tal desvaloração.
Assim, a visão dele sobre o niilismo, de certa forma profética, é um diagnóstico sobre a doença existente na Modernidade e um prognóstico sobre o curso que a doença irá assumir.
O filósofo considera que o racionalismo de Sócrates conseguiu dominar a cultura ocidental, por meio de sua aliança com o cristianismo. Para Nietzsche, há uma espécie de “niilismo religioso”, um niilismo que gira em torno da ideia de que há um mundo metafísico, “verdadeiro”, por trás do mundo da nossa percepção sensorial – um “céu”. Assim, ao postular um mundo superior, Nietzsche argumenta que estamos sentenciando, condenado e desvalorizando o mundo em que vivemos.
A “morte de Deus”
ResponderExcluirNietzsche observava que, embora a maioria dos intelectuais e artistas que viviam em sua época não acreditassem em Deus, eles ainda, em grande medida, acreditavam em muitos dos valores da interpretação moral do cristianismo.
Para Nietzsche, a ideia de Deus é a base para todos os valores supremos, e sem Deus eles não podem existir. Portanto, a radicalização de Nietzsche sobre o niilismo consiste, basicamente, na hipótese de que, se removêssemos a crença em Deus, todos os valores seriam desvalorados.
Em outros termos, se Deus está morto, então todos os valores supremos até então postulados devem também perecer. É importante sublinhar que, a ideia de Deus, para Nietzsche, não era simplesmente a do Deus teísta, mas antes a ideia que representava todas as crenças metafísicas que dão ordem e significado ao mundo.
Superação do niilismo
ResponderExcluirNietzsche nos fornece princípios orientadores para a transvaloração de todos os valores. Para isso, desenvolve três ideias que permitem construir uma interpretação do mundo mais afirmativa da vida e um guia para a criação de novos valores:
Vontade de potência: é uma visão do mundo e da vida; é o desejo por mais força, mais abundância; ela é o desejo por expansão e crescimento. Destruir os valores supremos é condição para que possam nascer os valores novos, o que pode ser alcançado pela vontade de potência;
O eterno retorno: essa ideia nietzscheana consiste em afirmar que todo evento que ocorreu, ou ocorrerá, é repetido eternamente. Nietzsche reconhece o inescapável sofrimento da vida, um fato com o qual o eterno retorno nos ensina a confrontar-nos. A dor da vida é inseparável de sua alegria;
Übermensch: é um termo que pode ser traduzido por “além-do-homem” ou “além-do-humano”. Esse é um tipo superior de ser humano que é capaz de afirmar a natureza trágica da existência, ser mestre de si mesmo e criar novos valores.
Por fim, Nietzsche argumenta que o niilismo é um passo necessário para o desenvolvimento tanto do indivíduo como da sociedade, porque trata-se de uma oportunidade para erradicar a decadência que o autor vê como marca da Modernidade e que fora desencadeada pela visão de mundo da moral cristã.
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