História do Hino Nacional: saiba tudo sobre a canção

 


Você vai conhecer a história de nosso hino, algumas curiosidades e acabar de vez com as dúvidas no momento de entoar a solene canção!

História do Hino Nacional

O poema parnasiano, que hoje é reconhecido oficialmente como o Hino Nacional do Brasil, foi criado no ano de 1831 pelo poeta e ensaísta Joaquim Osório Duque Estrada.

A letra acompanha a marcha que havia sido composta pelo musicista Francisco Manuel da Silva. O conjunto era considerado o hino do país de forma extraoficial desde a monarquia, por um consenso popular.

Joaquim Osório Duque Estrada
Joaquim Osório Duque Estrada / Créditos: Divulgação

Depois que foi proclamada a República brasileira, o então presidente Deodoro da Fonseca promoveu um concurso para criar uma nova versão do Hino Brasileiro.

A música vencedora não agradou à população, que considerava a música de Joaquim Osório e de Francisco Manuel o hino do país.

Para não desagradar o povo brasileiro, o presidente optou por manter e oficializar a música anterior como o Hino do Brasil e a nova canção, vencedora do concurso, tornou-se o Hino da Proclamação da República.

Letra e análise do Hino Nacional

Agora que você já conhece um pouco da história e do contexto em que foi institucionalizado o Hino Nacional, vamos analisar o que diz a letra da canção.

Primeira parte: liberdade do Brasil

O início da letra fala sobre a independência brasileira e exalta a nova condição do Brasil de país independente.

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante

Nas primeiras duas frases da letra, já é possível perceber a presença de inversões sintáticas. Ou seja: as palavras não estão colocadas na ordem em que normalmente conversamos e escrevemos.

Se colocarmos a frase em uma ordem direta e trocarmos as palavras eruditas por termos cotidianos, esse trecho nos diz que, ao longo das margens tranquilas do Rio Ipiranga, foi possível escutar o grito do povo brasileiro.

A Proclamação da Independência, de François-René Moreaux, 1844
A Proclamação da Independência, de François-René Moreaux, 1844

Dom Pedro I estava próximo ao Rio Ipiranga quando proclamou a independência do Brasil. Esse é o brado (grito) a que se refere a letra, e o imperador aparece como um representante do povo brasileiro ou do povo heroico.

E o Sol da liberdade, em raios fúlgidos
Brilhou no céu da Pátria nesse instante

O autor, Joaquim Osório, compara a liberdade conquistada pelo Brasil a um Sol com raios brilhantes. O brilho ilumina o céu da Pátria, antes obscuro pelo colonialismo.

Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte
Em teu seio, ó liberdade
Desafia o nosso peito a própria morte!

Penhor equivale a uma garantia ou segurança. Portanto, a frase está dizendo que, com a força de seu povo, o braço forte, o Brasil conquistou a liberdade e a garantia de uma igualdade com Portugal.

O Brasil, que antes era uma colônia de Portugal, passou a ser um país independente. Caso essa garantia de liberdade fosse desafiada, o trecho afirma que o povo brasileiro estava disposto a lutar até a morte.

Segunda parte: declaração de amor ao país

A seguir, a letra da poesia afirma todo o amor que povo brasileiro sente pelo país:

Ó Pátria Amada
Idolatrada
Salve! Salve!
s

Essa frase é uma declaração ao Brasil, que é idolatrado, ou seja, colocado como ídolo, e também amado pelo seu povo. Salve é uma forma de saudar e de desejar proteção ao país.

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce
Se em teu formoso céu risonho e límpido
A imagem do Cruzeiro resplandece!

Para compreender esse trecho, primeiro vamos entender o significado de algumas palavras: vívido é intenso; formoso significa belo; límpido equivale a transparente e resplandecer é o mesmo que brilhar.

O poeta compara nosso país a um sonho, pois tem muito a crescer e a conquistar. Depois ele comenta que no Brasil existe muito amor e esperança, e explica o motivo na frase seguinte.

Cruzeiro do Sul
Cruzeiro do Sul / Créditos: Divulgação

O Cruzeiro do Sul é uma constelação que pode ser vista no céu do Brasil e tem a forma semelhante a uma cruz. O símbolo remete a Jesus Cristo, que é visto como uma figura que traz consolo, amor e esperança às pessoas.

Terceira parte: exaltação das belezas naturais

Uma boa parte do Hino Nacional ressalta a grandeza e as belezas naturais que o Brasil possui.

Gigante pela própria natureza
És belo, és forte, impávido colosso
E o teu futuro espelha essa grandeza

O poeta exalta o tamanho de nosso país, o quinto maior do mundo. Na segunda frase, ele pontua isso novamente, ao usar a palavra colosso para se referir ao Brasil. Colosso se refere a tudo aquilo que possui um tamanho descomunal.

Terra adorada, entre outras mil
És tu Brasil, ó pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria amada, Brasil!

Essa parte é um pouco mais fácil de ser entendida. Ela também possui algumas inversões, então, se colocarmos as palavras na ordem direta, o que está escrito é: Brasil, você é nossa terra adorada. Nós te escolhemos em meio a outras mil terras. Você é nossa pátria amada, a mãe carinhosa dos brasileiros, filhos deste solo.

Deitado eternamente em berço esplêndido
Ao som do mar e à luz do céu profundo
Fulguras, ó Brasil, florão da América
Iluminado ao Sol do Novo Mundo!

Joaquim Osório transmitiu nesse trecho a ideia de que a localização geográfica do Brasil é privilegiada.

Ele possui toda uma natureza que forma a imagem de um berço, uma metáfora que remete à recém-conquistada independência do Brasil, comparando o país a um bebê.

Na segunda frase, ele engrandece as praias brasileiras que estão sob a luz do céu profundo, ou seja, iluminadas por um céu ensolarado.

Em seguida, o poeta aponta que o Brasil destaca-se como um florão, uma flor de ouro, entre as outras nações da América, região que na época era chamada de Novo Mundo.

Do que a terra mais garrida
Teus risonhos lindos campos têm mais flores
Nossos bosques têm mais vida
Nossa vida no teu seio, mais amores

Esse trecho refere-se ao poema Canção do Exílio, escrito por Gonçalves Dias em 1846. Ele também nos diz que os risonhos campos do Brasil têm mais flores do que outras terras consideradas garridas, vistosas.

Os bosques do país têm muita vitalidade e a vida dos brasileiros possui mais amor, por terem nascido em uma terra tão bela.

Quarta parte: o amor pelo país acima de tudo

No final da canção, o poeta reafirma uma vez mais o amor que sente pelo país e declara que seus filhos o defenderão até a morte.

Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado

O autor repete uma declaração de amor ao Brasil. Em seguida, usa novamente o recurso da inversão sintática para desejar que o lábaro, ou seja, a bandeira estrelada que o Brasil carrega, seja um símbolo de amor eterno.

E diga ao verde-louro desta flâmula
Paz no futuro e glória no passado

Novamente ele faz referência à bandeira do Brasil, dessa vez como flâmula. Então ele está desejando paz no futuro e honrando o passado da bandeira, que representa o Brasil.

A cor verde é a principal da bandeira do Brasil. O poeta refere-se a ela como um verde-louro, ou seja, do tom de uma planta chamada louro.

A erva era usada nas coroas dos imperadores romanos, portanto representa poder e grandeza.

Mas se ergues da justiça a clava forte
Verás que o filho teu não foge à luta
Nem teme quem te adora a própria morte

O primeiro verso começa com a palavra mas, indicando que se trata de uma oposição. Anteriormente, o poeta havia dito que deseja paz ao futuro do Brasil.

Porém, se a justiça precisar ser defendida com uma clava forte (clava é um instrumento de madeira que antigamente era usado como arma), nenhum brasileiro vai fugir da luta.

Joaquim Osório conclui dizendo que quem adora o país não teme a morte, os brasileiros sacrificariam a própria vida pela nação.

Terra adorada, entre outras mil
És tu, Brasil, ó pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria Amada, Brasil!

O último trecho do Hino Nacional do Brasil afirma novamente que a terra brasileira representa uma mãe gentil para os filhos deste solo, ou seja, as pessoas que aqui nasceram.

Ele também reafirma o tanto que ama a pátria e que, entre outros mil lugares, essa é a terra mais adorada.

Letra da introdução do Hino Nacional

Pouca gente sabe, mas a introdução do Hino Nacional já teve uma letra também. A parte do hino que atualmente não é cantada foi tirada da versão oficial e não se sabe bem o motivo. Essa é a letra da introdução: 

Espera o Brasil
Que todos cumprais
Com o vosso dever
Eia avante, brasileiros
Sempre avante!

Gravai com buril
Nos pátrios anais
Do vosso poder
Eia avante, brasileiros
Sempre avante!

Servi o Brasil
Sem esmorecer
Com ânimo audaz
Cumpri o dever
Na guerra e na paz
À sombra da lei
À brisa gentil
O lábaro erguei
Do belo Brasil
Eia sus, oh, sus!

Olha como essa parte era cantada: 

A letra dessa introdução é atribuída a Américo de Moura, presidente da província do Rio de Janeiro nos anos 1879 e 1880. O trecho é uma lembrança para que os cidadãos cumpram com o seu dever e sirvam o país para que este cresça

O verso final usa duas expressões que podem parecer estranhas porque já não a usamos atualmente: eia, que é uma interjeição usada para animar, e sus, uma palavra do latim que significa de baixo para cima, usada como forma de motivação — como um “erga-se!” ou “avante!”.    

Nosso Hino Nacional é um dos mais líricos do mundo

O Hino Nacional brasileiro é considerado um dos mais líricos do mundo, ou seja, ele é muito marcado pelo sentimentalismo.

Um retrato fiel do povo brasileiro, mundialmente conhecido por ser um povo alegre, emotivo e apaixonado!

É com essa paixão, característica de nosso povo, que a maioria dos brasileiros canta o Hino Nacional.

Isso é claramente percebido antes dos jogos esportivos, quando toda a plateia levanta-se para entoar a canção.

Estilo Parnasiano

Compreender o Hino Nacional brasileiro realmente não é tarefa fácil! Isso porque a letra do hino foi escrita em uma linguagem extremamente culta, muito distante da que usamos no dia a dia.

Além disso, a poesia é marcada por muitas inversões sintáticas, um recurso utilizado na intenção de tornar as rimas mais bonitas e harmônicas.

Essas duas características são marcantes de um estilo literário chamado parnasianismo

O movimento buscava retomar a cultura clássica e para isso os autores optaram pelo uso de uma linguagem mais rebuscada.

O Hino Nacional foi escrito nesse contexto, por isso podemos encontrar tantas palavras eruditas e difíceis.



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