O QUE É RELIGIÃO?

 

A não ser que tenhamos ideia da sua natureza e significado, não poderemos avançar muito no estudo do tema; e, no entanto, não é fácil expressar verbalmente tal ideia, porque tudo o que é grande paira sobre o infinito e não reconhece fronteiras.

Uma definição verbal é como uma parede levantada em torno de uma realidade, para colocá-la ao nosso alcance; mas uma parede tem os seus limites e deixa de fora muito mais do que o que fecha dentro.

Razão tinha o velho labriego da poesia, Mending Wall, de Robert Frost, ao dizer:
“Antes de construir quero saber o que devo cercar e o que não devo cercar, porque algo tem que rejeitar toda a cerca”.
Nenhuma das realidades supremas da vida pode ficar trancada por uma cerca.

Um homem pode restringir um campo, mas não poderá diminuir a brisa que sopra sobre o campo nem os raios de sol que sobre o campo caem. No entanto, sem o vento e o sol e a nuvem que se desfazem na chuva, o seu campo nada valeria.

Assim, também não se pode limitar a ideia de religião com a cerca de uma definição verbal, pois ela vai quebrá-la para escapar pela nossa rede de palavras. Quando tudo for dito, restará uma margem de misticismo, um espírito que destrói as palavras.

Religião é o sentido da vida e só pode ser aprendida vivendo-a.
É claro que temos de traçar uma linha entre religião e teologia.

A religião é a verdade da vida com seu ardimento e fulgor, com sua alegria e entusiasmo.

Teologia é um sistema de raciocínio e conjecturas, de símbolos e tradições pelas quais o homem tenta justificar, esclarecer e interpretar a sua fé.

Religião é poesia. Teologia é prosa.
Há entre ambas uma diferença análoga entre um jardim florido e um tratado de botânica, entre um manual de astronomia e o céu estrelado.

Assim como não há necessidade de conhecer botânica para desfrutar dos aromas de um arriate de violetas, também não é necessário escrutinar os mistérios da teologia para viver religiosamente.

O homem que só tem uma ideia confusa do que significa amar a Deus, ama-o sem cessar da melhor maneira possível estendendo uma mão auxiliadora aos seus companheiros de caminho.

Além disso, por necessidade natural, o homem não pode ser satisfeito com uma existência impulsiva e irreflectida.

O homem é um pensador, um pesquisador da verdade, um filósofo que deseja analisar os mistérios e conhecer o sentido da sua vida, a fim de viver com mais clara visão e melhor propósito.

Assim se elaborou muitas teologias, algumas mais volumosas do que luminosas, sobre as quais disputou acesavelmente, excomungando aqueles que discordavam das suas opiniões e esquecendo que sem caridade nenhuma teologia tem valor algum.

É evidente que é um erro confundir a explicação da religião com a realidade religiosa e mais errado ainda fazer dos seus dogmas uma prova de fraternidade e salvação, porque segundo Jesus, com quem coincidem os nossos melhores conceitos, não somos salvos pelo que pensamos, mas pelo que somos.

A teologia deve ser revista como todas as ideias humanas que crescem de acordo com “os pensamentos do homem dilatam-se ao par do processo dos sóis”.

Da própria sorte, os templos, os altares, os credos, as festividades, os jejuns e os esforços para realizar e expressar o invisível elemento mental e emocional que neles está subjacente, não são Religião.

São os esforços para expressar por meio de símbolos ou invocar sacramentalmente o mistério e sentido da vida.

Religião não é uma coisa abstrata. É a própria vida e, como disse Scrougall há três séculos, é “a vida de Deus na alma do homem”.

A Igreja não tem o monopólio da religião nem a Bíblia foi a sua origem.

Pelo contrário, da religião derivaram a Bíblia e a Igreja, e se ambas desaparecessem, a religião voltaria a gera-las.

Diz Emerson no The Problem:

“Do coração da natureza surgiram um tempo os versículos da Bíblia, e como das entranhas de um vulcão flamejante em línguas ígneas, os cânticos de amor e angústia na ladaania das nações. A palavra dos profetas foi escrita em tábuas ainda infringidas, e o mundo atordoado não perdeu a linguagem do Espírito Santo”.

(Joseph Fort-Newton – A Religião da Maçonaria)

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