A Divina Comédia: resumo da obra e explicação sobre o inferno de Dante (Daniela Diana ,sora licenciada em Letras)

 

A Divina Comédia do poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321) é uma obra que foi publicada no século XIV durante o período do Renascimento. Ela representa um dos maiores clássicos da literatura universal.


Esse grande poema épico foi escrito em dialeto local, o florentino. Repleto de simbolismos e alegorias, Dante critica filósofos, religiosos e políticos que viveram em sua época.

Características da Obra

Originalmente, a obra foi intitulada “Comédia”, e mais tarde o escritor Giovanni Boccaccio (1313-1375) incluiu o termo “Divina”.

O poema é narrado em primeira pessoa, onde Dante é o narrador e ainda, o personagem principal. Em muitas passagens Dante fala diretamente com o leitor.

Com grande maestria e uma linguagem alegórica, o autor descreve sua trajetória no inferno, no purgatório e no paraíso

A obra reúne 100 cantos com aproximadamente 140 versos cada um. Os versos foram escritos em tercetos de decassílabos, com o esquema de rimas alternadas e encadeadas (ABA BCB CDC).

Saiba mais sobre o autor Dante Alighieri.

Resumo da Obra

A Divina ComédiaDante entre a montanha do Purgatório e a cidade de Florença. Pintura de Domenico de Michelino

Com teor histórico, mitológico, filosófico, político e religioso, a extensa obra de Dante está dividida em três partes:

Inferno

A primeira parte é composta de 34 cantos com cerca de 140 versos cada um. Virgílio, o grande poeta romano autor de Eneida, surge para guiar Dante pelo inferno e o purgatório em direção ao paraíso. Antes de encontrar Virgílio, ele estava numa selva escura.

O inferno é um local no interior da terra formado por nove círculos. A imagem descrita por Dante esteve baseada na cultura medieval, onde o universo era formado por diversos círculos concêntricos.

Os nove círculos do inferno estão associados aos pecados cometidos, sendo o último o de maior gravidade:

  • Primeiro Círculo: o Limbo (virtuosos pagãos)
  • Segundo Círculo: Vale dos Ventos (luxúria)
  • Terceiro Círculo: Lago de Lama (gula)
  • Quarto Círculo: Colinas de Rocha (ganância)
  • Quinto Círculo: Rio Estige (ira)
  • Sexto Círculo: Cemitério de Fogo (heresia)
  • Sétimo círculo: Vale do Flegetonte (violência)
  • Oitavo círculo: o Malebolge (fraude)
  • Nono Círculo: lago Cocite (traição)

Nessa trajetória, até chegarem às portas do paraíso, eles encontram diversas personalidades importantes (filósofos, poetas, escritores) e figuras mitológicas. Dante analisa a punição para cada um dos pecadores que estão no inferno e no purgatório.

De acordo com a gravidade dos pecados cometidos em vida, Dante descreve o castigo para cada grupo: os tiranos, os traidores, os aduladores, os suicidas, os heréticos, dentre outros.

Na última parte ele encontra com Lúcifer, o demônio traidor que devora os três maiores traidores da história: Judas, Brutus e Cassius.

Trecho do Inferno de Dante (Canto I)

No meio do caminho desta vida
me vi perdido numa selva escura,
solitário, sem sol e sem saída.


Ah, como armar no ar uma figura
desta selva selvagem, dura, forte,
que, só de eu a pensar, me desfigura?


tomado de uma sonolência estranha,
quando a vera vereda abandonei.

Purgatório

A segunda parte da obra é composta de 33 cantos. No purgatório, localizado numa alta montanha, Dante descreve o encontro com as almas que aguardam para serem avaliadas.

Ou seja, elas esperam saber se mediante os pecados cometidos em vida vão para o inferno ou para o paraíso.

Assim, o purgatório é um local intermediário entre o inferno e o paraíso. Ali, Dante encontra diversos pecadores arrependidos, mais precisamente no local denominado de ante-purgatório.

O purgatório é formado por sete círculos, os quais representam os sete pecados capitais: Orgulho, Inveja, Ira, Preguiça, Avareza, Gula e Luxúria.

Trecho do Purgatório de Dante (Canto I)

Do engenho meu a barca as velas solta
Para correr agora em mar jucundo,
E ao despiedoso pego a popa volta.

Aquele reino cantarei segundo,
Onde pela alma a dita é merecida
De ir ao céu livre do pecado imundo.

Ressurja ora a poesia amortecida,
Ó Santas Musas, a quem sou votado;
Unir ao canto meu seja servida

Calíope o som alto e sublimado,
Que às Pegas esperar não permitira
Lhes fosse o atrevimento perdoado.

Paraíso

A terceira e última parte da Divina Comédia é formada por 33 cantos. Quando chegam ao final da trajetória, Virgílio, seu guia e mentor, não pode entrar, pois era pagão.

Assim, o local do poeta romano é o inferno. No paraíso Dante reencontra seu grande amor, Beatriz.

Em vida, ele se casou com Gemma Donati, no entanto, seu amor foi sempre de Beatriz, sua amada e musa inspiradora, que na realidade, chegou a falecer com aproximadamente 25 anos. Ela que o guiou pelo paraíso.

Todavia, Dante não pode permanecer com ela, visto que ainda seu caminho como mortal não havia terminado.

De tal modo, a obra relata a visita de Dante ao local que as pessoas vão quando morrem. Essa viagem espiritual e de forte teor moral serviu de reflexão ao personagem e narrador: Dante. A trajetória de Dante termina quando ele encontra com Deus.

Vale lembrar que o paraíso de Dante é formado por nove esferas e o empírico. As esferas representam a parte material e o empírico a parte espiritual.

As esferas concêntricas que formam o paraíso são: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno, as estrelas fixas e o “Primum Mobile” (Primeira esfera a ser movida).

Trecho do Paraíso de Dante (Canto I)

À glória de quem tudo, aos seus acenos,
Move, o mundo penetra e resplandece,
Em umas partes mais em outras menos.

No céu onde sua luz mais aparece,
Portentos vi que referir, tornando,
Não sabe ou pode quem à terra desce;

Pois, ao excelso desejo se acercando,
A mente humana se aprofunda tanto
Que a memória se esvai, lembrar tentando.

Os tesouros, porém, do reino santo,


Que arrecadar-me pôde o entendimento,
Serão matéria agora de meu canto.

Confira a obra na íntegra, fazendo o download do pdf aqui: A Divina Comédia.

Filme

Lançado em 1991, o filme A Divina Comédia é um drama baseada na obra de Dante Alighieri. Foi realizado por Manoel de Oliveira, cineasta português.

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