
Questões sobre o desempenho do Venerável Mestre em Lojas Maçónicas e seus reflexos na Maçonaria Universal
Introdução
Este texto tem por objectivo demonstrar que o exercício do cargo de Venerável Mestre numa Loja Maçónica implica no contexto maçónico geral, identificar algumas falhas conceituais e propor algumas soluções para o referido processo.
O exercício do cargo de Venerável Mestre contribui, conceitualmente, no entendimento dos Irmãos e da Sociedade o que representa a Maçonaria? Quais são as implicâncias e responsabilidades do Venerável Mestre em termos conceituais do que é a Maçonaria como um todo? O que pode ser implementado, neste processo, envolvendo pretendentes ao cargo de Venerável Mestre?
Considerações gerais
O exercício do cargo de Venerável Mestre numa Loja Maçónica tem impacto directamente nos Irmãos e indirectamente na Sociedade. Fundamento esta análise, basicamente, numa experiência vivencial regular dentro de uma Loja Maçónica.
Esta responsabilidade compartilhada ao Venerável Mestre deve-se ao facto que a Potência Maçónica, transfere a responsabilidade da Administração das suas Lojas ao Venerável Mestre. A Maçonaria, quanto às suas Administrações é segmentada e regionalizada, tendo Constituições e Regulamentos próprios. A inexistência nesta Maçonaria Universal de uma Administração Geral vem referendada pelo escritor Kennyo Ismail:
Apesar de uma Ordem presente no mundo inteiro, a Maçonaria não possui um poder central internacional, pois cada Grande Loja no mundo, seja composta de três ou 3000 Lojas, é independente e soberana. Não existe um Grão-Mestre Internacional, nem mesmo um Conselho que possa falar em nome de toda a Instituição.
(ISMAIL, KENNYO.
Desmistificando a Maçonaria. P.75)
Quando a Sociedade se refere à Maçonaria fica a caracterização de que esta tem conceitos, Leis e Normas únicas. O facto desta Maçonaria não ter uma Administração Geral cabe o registro de que se houvesse um Poder Único, as suas Leis, Normas e Regulamentos seriam para todos, concomitantes, com os mesmos propósitos administrativos e filosóficos. Na actualidade, Potências Maçónicas [1] e Lojas Jurisdicionadas [2] tem liberdades administrativas. As Potências apenas orientam as Lojas na parte Litúrgica e Legal, referendando o nome de Maçonaria, como se as Lojas fizessem parte de uma Entidade Internacional.
Tendo-se ciência de que as Potências Maçónicas não têm capacidade física, estrutural de fiscalizar todo o seu ambiente maçónico devido, muitas vezes, a sua enorme quantidade, entra em análise neste contexto segmentado, de que tudo fica a cargo do Venerável Mestre de cada Loja.
Tendo em vista esta estrutura organizacional no processo relacional entre Potência Maçónica, Loja Jurisdicionada, Venerável Mestre, Irmão Maçónico e Sociedade, caracteriza-se que a Entidade Maçonaria tem os seus propósitos avaliados pela Sociedade, primeiramente, através de informações advindas do Venerável Mestre, pois, é este quem faz o primeiro contacto com pessoas da Sociedade, mesmo que este contacto seja feito por outros Irmãos, é ele quem orienta e instrui o que devem estes Irmãos fazerem.
Salientar que conceitos e entendimentos maçónicos do Venerável Mestre possam estar sendo deturpados, quando da sua interacção com Irmãos e Sociedade, vem no sentido de destacar que estes possam estar sendo transmitidos erroneamente.
No ambiente maçónico exercido, observa-se que Irmãos agem de maneira incorrecta, em alguns casos, simplesmente porque não aprendem o correcto através de ensinamentos em Lojas feitos sob a responsabilidade do Venerável Mestre [3]. Ao se transferir para o ambiente Profano nota-se que alguns Membros da Maçonaria estão agindo de maneira incorrecta ou mesmo a Entidade esteja suscitando uma imagem negativa. Reafirmo: é o Venerável Mestre que tem a responsabilidade pelo primeiro contacto com um Profano mesmo que ele tenha delegado esta actividade a outro Irmão; é o Venerável Mestre que tem a responsabilidade de transmitir os propósitos maçónicos para todos os Irmãos durante a sua jornada maçónica.
No contexto maçónico analisado, entendo que alguns Veneráveis Mestres exercendo estes Poderes lhes atribuídos, transfiguram a Ordem Maçónica, muitas vezes, por falta de capacidade técnica/intelectual ou por terem aprendido errado. Em alguns casos, Veneráveis Mestres sentindo-se livres de qualquer acto punitivo, pois tem autoridade oficial delegada, agem com uma liberdade inconsequente, transmitindo os seus pontos de vistas sobre determinados assuntos que são contrários aos propósitos oficiais maçónicos. Depois de investido oficialmente no seu cargo, o Venerável Mestre da Loja gera controversas situações que precisam ser corrigidas ou amenizadas.
Tem-se ciência de que muitos Veneráveis Mestres são guindados a este cargo por indicações dos ‘famosos rodízios” [4] em cada Loja e não por merecimento.
A Meritocracia [5] não tem funcionado em algumas Lojas Maçónicas [6], quanto a ocupação de qualquer cargo. Estranha-se que na contramão da aplicação de uma Meritocracia em Lojas, algumas Potências Maçónicas oficializam que para assumir o cargo de Vigilante, o Irmão tenha que ter passado por 2 cargos de nomeação, não especificando quais cargos. O tempo de actividade não coaduna com a Meritocracia, pois, para alguns Irmãos é somente esperar o tempo passar para assumir as suas pretensões maçónicas, além de que alguns cargos são nomeados pelo Venerável Mestre ocasionando neste processo a nomeação de alguns Irmãos com que tenha maior afinidade pessoal.
Torna-se factual ver Veneráveis Mestres sendo colocados no cargo correspondente e não saber o quê fazer. Alguns almejam o cargo para eternizar nos seus Currículos Maçónicos ter tido esta honra de ser o Venerável Mestre.
Neste relato, verifica-se que alguns Veneráveis Mestres passam pelo cargo e não entenderam que uma das principais funções de um Venerável Mestre é administrar a Loja e proporcionar uma Liturgia pertinente aos propósitos da Ordem Maçónica, além de uma representação em cada Loja do que é a Maçonaria com todos os seus Princípios e Leis.
Têm-se notado diversos erros cometidos em Lojas, principalmente com relação à Liturgia aplicada do Rito pelos Veneráveis Mestres e, numa impotência desalentadora, constata-se que estes depois de investidos no Poder agem conforme os seus entendimentos. Citar casos pontuais de erros de Veneráveis Mestres seria inócuo no momento porque para cada caso a ser citado teria uma infinidade de desculpas adornadas na memória dos indiciados.
A Maçonaria é uma entidade centenária, a sua credibilidade conquistada por merecimento, através de uma rigidez conceitual, e torna-se preocupante verificar que Veneráveis Mestres não transmitem os reais propósitos desta Ordem.
É factual ver Irmãos transcorrer caminhos recheados de opiniões e entendimentos diversos dos propósitos da Ordem apenas porque foram aprendidos erradamente. É desalentador verificar em lojas Maçónicas erros, principalmente quanto a sua Liturgia, simplesmente porque o Venerável Mestre assim deseja.
Considerações finais
Nesta análise, todo o desenrolar da cadeia informativa maçónica e os seus propósitos universais vem referendadas primeiramente pelo Venerável Mestre de cada Loja. Sugiro actuações Institucionais em tudo que envolve o cargo de Venerável Mestre.
A atuação de um Venerável Mestre na sua Loja tem que vir com a responsabilidade de que a sua administração tenha o entendimento da parte Litúrgica e que seja rigorosamente igual ao Rito praticado. Tem que ter um conhecimento rigoroso dos Princípios, Leis e Normas da sua Potência e da Maçonaria Universal para transmitir estes conceitos aos seus Irmãos e a Sociedade.
Sugiro implementações de práticas Pedagógicas Institucionais específicas no ambiente maçónico e no processo envolvendo o Venerável Mestre desde a sua candidatura até o seu exercício oficial.
É necessária uma Docência específica ao candidato à Venerança e ao Venerável Mestre quando estiver exercendo o mandato. Esta Docência tem que ser compatível com a actualidade, dirigida e fiscalizada pela Potência Maçónica Institucional.
Urge, também, a necessidade de Irmãos pretendentes ao cargo de Venerável Mestre passar por avaliações técnicas de conhecimento do Rito; da sua capacidade administrativa organizacional; do seu entendimento dos Princípios e Objectivos da Maçonaria e das suas responsabilidades com avaliações recorrentes.
É necessário que o Venerável Mestre tenha exercido todos os cargos de uma Loja e que esta aprendizagem conceitual seja uma exigência Institucional.
Em casos específicos envolvendo algumas Potências Maçónicas que trazem nas suas Leis a necessidade de um Conselho de Mestres Instalados é necessário que este Conselho seja presidido pelo Ex-Venerável Mestre mais antigo na Ordem, por tempo de exercício na Maçonaria, e não pelo Venerável Mestre da actualidade para que não haja conflitos internos quando este Conselho precisar admoestar o Venerável Mestre da atualidade caracterizando o Conselho de Mestres Instalados como um Grupo que fiscaliza, pune e redireciona o Venerável Mestre caso o mesmo esteja agindo incorretamente.
É necessário propostas educacionais, tais como, Cursos específicos para este cargo ou uma Escola de Veneráreis Mestres.
É necessária uma Escola de preparação à Venerança, dirigida especialmente aos Vigilantes de cada Loja que tenham a pretensão de exercer o cargo de Venerável Mestre.
É necessário que antes de assumir ao cargo de Venerável Mestre o candidato seja entrevistado / ’sabatinado’ / avaliado pelo Conselho de Liturgia da sua Potência Administrativa para verificar se o mesmo tem condições técnicas, administrativas e sabe todo o conceitual maçónico.
A preocupação com o cargo de Venerável Mestre numa Loja vem no sentido de demonstrar que este cargo, coadunado com a sua administração, reflete-se sobremaneira na aprendizagem maçónica dos Irmãos e por consequência na Sociedade.
Jorge Antônio Mendes Mestre Maçom – Loja Namaste 172 – Oriente de Esteio/RS
Comentários
Postar um comentário