Matias Aires Ramos da Silva de Eça (1705-1763) nasceu na cidade de São Paulo em 1705.
Filho de José Ramos da Silva e de D. Catarina dHorta, Matias Aires foi educado no colégio jesuíta de São Paulo, onde aprendeu a ler e escrever em português e latim, também estudando os clássicos e os rudimentos de religião e filosofia.
Quando tinha onze anos, seu pai resolveu transferir-se para Lisboa. Como homem prático que era e através dos bons contatos com os jesuítas que desfrutavam de grande prestígio junto a D. João V, foi José Ramos designado para exercer o cargo de Provedor das Casas de Fundição, uma das mais altas e lucrativas funções do Reino.
Era irmão de Teresa Margarida da Silva e Orta, considerada a primeira mulher romancista em língua portuguesa.
Seu pai, José Ramos da Silva, foi provedor das expedições que encontraram ouro nas Minas Gerais.
O escritor Alceu Amoroso Lima, na introdução ao livro de Matias Aires, faz o seguinte comentário: “A figura de José Ramos da Silva, e a sua ascensão de criado de servir a magnata máximo da fortuna paulista do século XVIII, tornou-se um dos tipos mais representativos do Brasil Colonial.”
Bafejado pela sorte, este novo rico passou a ser um grande mecenas para os Jesuítas de São Paulo, construindo igrejas, mandando vir de Portugal mestres de obras, santeiros, talhadores e douradores, enfim, dando todo o apoio aos conventos e colégios da Ordem. Foi neste ambiente que nasceu
Aos doze anos, mudou-se com sua família para Lisboa. Em Portugal fez o curso de humanidades no Colégio Santo Antão.
Foi Bacharel em Filosofia pela Faculdade de Ciências e Mestre em Artes pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em Paris obtém o duplo diploma em Direito Civil e em Direito Canónico.
Em 1728, decide ir para Paris, matriculando-se na Sorbonne onde, além de continuar o curso de Direito, estuda ciências naturais, matemática e hebraico, seguindo as grandes linhas de preocupação da época - o empirismo de Locke, o racionalismo de Rousseau e as ciências matemáticas e físicas com nascente prestígio sob a influência de Newton.
Foram seus contemporâneos neste período francês pensadores como Voltaire e Montesquieu.
Volta a Portugal em 1733 e continua suas leituras no isolamento de suas Quintas.
Tornou-se notável literato e naturalista e grande amigo do malogrado escritor fluminense António José da Silva, "o Judeu", que procurou ardentemente salvar da fogueira, o que não conseguiu
Em 1743, com a morte do pai, o substitui nas funções e passa a residir em Lisboa, frequentando, na ocasião, os altos salões da Corte. Adquire para morar o Palácio do Conde de Alvor, uma monumental residência, conhecida hoje, em Lisboa, como o Solar das Janelas Verdes, onde funciona o grandioso Museu de Arte Antiga.
Com a morte de D. João V, sobe ao trono português D. José I.
É para este monarca que Matias Aires dedica o seu célebre livro, ''Reflexões sobre a Vaidade dos Homens'', que tem como subtítulo ''Discursos Morais sobre os efeitos da Vaidade, oferecidos ao – Rei Nosso Senhor D. José I". A 1ª edição data de 1752' onde o autor tece suas ponderações a partir do trecho bíblico extraído do Eclesiastes: Vanitas vanitatum et omnia vanitas, ou seja, "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade"
Segundo Carvalho dos Reis (2019), o pai de Matias, homem ambicioso, foi para Portugal com o objetivo de conquistar a nobilitação: o último degrau da hierarquia da vaidade social.
Com este objetivo, no ano de 1716, acomodou-se com tanta pompa quanta a ambição, procurando reconduzir a si os holofotes de Lisboa. Todavia, não encontrou a mesma sorte que no Brasil (Aires: 2005, p.218, apud CARVALHO REIS), pelo contrário, foi recebido com inimizade.
O mesmo se terá passado com o filho Matias, igualmente habituado à deferência com que era tratado no Brasil, «agora, era apenas o filho de um dos tais mineiros que o povo da corte invejava, mas não estimava».
Estas experiências terão ensinado, posteriormente, ao filho que a vaidade própria tende a ofender a alheia dando início ao seu interesse e reflexões sobre a Vaidade
Em seu livro: Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens escreveu:
"Com os anos não diminui em nós a vaidade, e se muda, é só de espécie.
A cada passo, que damos no discurso da vida, se nos oferece um teatro novo, composto de representações diversas, as quais sucessivamente vão sendo objetos da nossa atenção, e da nossa vaidade.
Assim como nos lugares, há também horizontes na idade, e continuamente imos deixando uns, e entrando em outros, e em todos eles a mesma vaidade, que nos cega, nos guia.
Nem sempre fomos suscetíveis das mesmas impressões; nem sempre somos sensíveis ao mesmo sentimento; sempre fomos vaidosos, mas nem sempre domina em nós o mesmo gênero de vaidade".
"Que coisa é a ciência humana, senão uma humana vaidade?
Quem nos dera que assim como há arte para saber, a houvesse também para ignorar; e que assim como há estudo, que nos ensina a lembrar, o houvesse também, que nos ensinasse a esquecer".
O tema do vanitas (extraído do Eclesiastes: Vanitas vanitatum et omnia vanitas) está presente no discurso católico contrarreforma do século XVII. Afinal, de que vale tanta vaidade se a própria vida é uma sucessão de mortes.
Regressado a Portugal, leva uma vida suntuosa, em que os bens do pai vão sendo progressivamente dilapidados. E, por este motivo, inicia uma pendência contra a irmã, Teresa Margarida, disputando o seu direito à herança.
Herdeiro do vínculo, após a morte do pai, Matias Aires sucede-lhe também no cargo de Provedor da Casa da Moeda. Tenta então uma nova pendência contra a irmã, mais uma vez sem sucesso.
Posteriormente, com as reformas introduzidas na administração portuguesa pelo Marquês de Pombal, Matias Aires é destituído do cargo e, em 1761, recolhe-se à sua Quinta na Corujeira e falece no ano de 1763. Deixou dois filhos ilegítimos: José e Manuel Inácio
A obra "O Problema de Arquitetura Civil, a saber: Porque os edifícios antigos têm mais duração e resistem mais ao tremor de terra que os modernos?" foi publicado postumamente em 1770, pelo filho de Matias: Manuel Ignácio Ramos da Silva Eça, que ficou famoso desde então.
Nesse contexto, a irmã de Matias, Teresa Margarida da Silva e Orta que afastara-se do irmão, reataria com ele sua amizade após a morte do marido. Assim, eles moraram juntos em São Francisco de Borja até a morte de Matias, em 1763.
Após seu falecimento Teresa e Manuel entraram numa disputa judicial pelos bens de Matias, acumulados também pelas publicações
O dramaturgo, romancista, poeta, advogado e membro da Academia Brasileira de Letras, Ariano Suassuna referia-se à Matias Aires como o maior filósofo do século XVIII em língua portuguesa, afirmando que o seu ostraciosmo revelava a negligência dos intelectuais brasileiros em relação a cultura brasileira.[nota 4] Mário de Andrade também citou Matias Aires no O Aleijadinho e Álvares de Azevedo como um dos autores que foi colher ideias nos jardins europeus.
Segundo Athayde de Tristão, o culto à ciência foi levado para Portugal por Matias Aires e por ele comunicado à sua irmã. Completamente embebido de cartesianismo, e mais do que isso, penetrado pelo naturalismo científico que o século XVII legara ao século XVIII, Matias Aires ia ser, em Portugal, o patriarca do cientificismo. Seria reconhecido como um dos grandes humanistas do século XVIII, comparado à Montaigne e La Rochefoucauld. Também, por seus escritos, é considerado um dos que abriram caminho aos estudos e ao cientificismo em Portugal
Matias Aires é o patrono da Cadeira de número 6 da ABL, que seria sucedida por Guerra Junqueiro em 1898. Também é o patrono da cadeira de número 3 da Academia Paulista de Letras, cujo fundador é Luís Pereira Barreto, sendo considerado pela instituição o primeiro filósofo brasileiro
Fonte: AIRES, Matias. Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens. Introdução de Alceu Amoroso Lima. Ilustrações de Santa Rosa. São Paulo: Livraria Martins Editora S. A., 1955.
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