A Ilusão da Unanimidade e a Dialética da Verdade


A unanimidade absoluta é um perigo latente, um eclipse da diversidade que, ao invés de iluminar a verdade, a reduz a um simulacro inerte.

A ausência de contrapeso não é apenas uma deficiência estrutural do pensamento, mas uma mutilação da própria existência dialética do real.

Tudo aquilo que se fecha em um único eixo, sem resistência ou contraponto, se condena à paralisia.

O homem, ser lançado ao mundo segundo a formulação sartriana, encontra-se perpetuamente diante da necessidade de construir significados.

Todavia, qualquer verdade que se apresente como unívoca e definitiva trai a própria tessitura da realidade, pois a verdade não é um monólito inquebrantável, mas um campo de tensões, uma confluência de forças antagônicas cuja síntese nunca se dá de forma absoluta.

Na história da humanidade, as grandes quedas ideológicas sempre ocorreram no instante em que um único discurso tornou-se hegemônico, excluindo a dissonância, aniquilando o outro, obliterando a possibilidade do diálogo.

A unanimidade, quando alcançada sem contestação, não é sabedoria, mas uma perigosa forma de dogmatismo que conduz à estagnação do pensamento.

Friedrich Nietzsche advertia sobre o risco da moral de rebanho, na qual a obediência cega substitui a reflexão crítica, tornando o homem não um ser autônomo, mas um eco indistinto de uma verdade imposta.
A verdade, no entanto, reside na intersecção dos opostos.

Ela não pode ser monofásica porque o mundo, em sua essência, é movimento, fluxo e contradição.

Não há luz sem sombra, não há liberdade sem limites, não há razão sem emoção.

Como na dialética hegeliana, a tese e a antítese encontram-se não para serem eliminadas, mas para se fundirem em uma síntese que, por sua vez, nunca será definitiva, mas apenas um estágio transitório na espiral infinita da compreensão.
O homem verdadeiramente livre não busca certezas absolutas, mas cultiva a dúvida e a consciência da multiplicidade.

Ele entende que a ausência de contrapeso não é um avanço, mas um colapso; não é um triunfo, mas uma falência do espírito.

Assim, recusa-se a ser prisioneiro de dogmas e abraça a inquietude de um pensamento que, ao invés de se fechar, permanece aberto às infinitas possibilidades do real.

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