As estrelas do céu.

 

A alquimia está intimamente ligada à Astrologia e ao Zodíaco, especialmente na Grécia, Egito e Babilônia. É o início da Tábua Esmeralda de Hermes Trismegisto que diz: "O que está em cima é o que está em baixo". De alguma forma, tanto a alquimia quanto a astrologia são conhecimentos que se interagem entre eles, pois aprofundar um significa aprofundar o outro.

Nicolás Valois: “Sabei, pois, ó meu filho e o mais querido dos meus filhos, que o Sol, a Lua e as estrelas exercem perpetuamente suas influências no centro da Terra”.
Os planetas e os metais também se relacionam.

A atividade das estrelas ajuda e condiciona o aparecimento de metais no interior da Terra. Proclo, filósofo neoplatônico do século V: "O ouro natural, a prata ou cada um dos metais, assim como as outras substâncias, são geradas na terra sob a influência de certas divindades celestes e de suas emanações. O sol produz o ouro, a lua a prata, Saturno o chumbo e Marte o ferro."
No processo alquímico intervêm 7 metais: dois são perfeitos (ouro e prata) e os outros cinco são imperfeitos (cobre, ferro, estanho, chumbo e mercúrio).

Estes últimos são os planetas Vênus, Marte, Júpiter, Saturno e Mercúrio, respectivamente. A prata pertence a Lua e o ouro o Sol.

As minas de prata são mais ou menos produtivas consoante a sua relação com a posição da Lua. Sobre o ouro, Berbüchlein diz: "Segundo a opinião dos sábios, o ouro é gerado de um enxofre o mais claro possível e bem purificado e retificado na terra, sob a ação do céu, principalmente do sol, de modo que não contenha mais nenhum humor que possa ser evaporado pelo fogo."
Bernardo Cobo, século XVI-XVII, cronista, cientista (destacam os seus estudos de botânica) e jesuíta do Vireinato do Peru: "Sete são as diferenças específicas em que se dividir todos os géneros de metais, convém a saber: ouro, prata, flagelo, cobre, ferro, estanho e chumbo; na geração de cada um dos quais influencia um planeta, comunicando a sua força e atividade cada àquele metal com quem tem mais analogia e afinidade. O ouro recebe do Sol, todas as suas boas qualidades que tem, sobre a prata predomina a Lua; Mercúrio cuja natureza é influenciar a mudança, têm especial cuidado do flagelo, e assim entreambos são agitados e inconstantes; o cobre assiste Vênus; o ferro, Marte; o estanho, Júpiter e finalmente o chumbo, o pesado e frio Saturno."

Alguns alquimistas estabelecem a relação entre o processo alquímico e os signos do zodíaco da seguinte forma: o processo deve começar em Capricórnio (22 de dezembro a 21 de janeiro), com o sol no solstício de inverno, o que significa que o astro rei começa a recuperar suas forças. Capricórnio é um sinal feminino. Saturno rege-o. A primeira casa de Saturno fica em Capricórnio.

A seguir vem Aquário (20 de janeiro a 18 de fevereiro). Já passaram entre 45 e 50 dias, como salienta Ramon Llull, e agora é hora da Nigredo, o início real do processo. É a segunda casa de Saturno, quando este planeta é dominante.
Depois temos Peixes (19 de fevereiro a 20 de março), outro sinal feminino. Aqui a Nigredo chega ao seu ponto alto.
Em Áries (21 de março a 20 de abril) começa a ver a separação de elementos.
No Câncer (22 de junho a 22 de julho) você atinge o Albedo ou branqueamento da obra. A Lua é o astro que rege o momento.
Em Leo (23 de julho a 22 de agosto) começa a etapa final ou Rubedo.
Em Libra (23 de setembro a 22 de outubro) a obra toma a forma de uma pedra vermelha.
Em Escorpião (23 de outubro a 21 de novembro) e Sagitário (23 de novembro a 21 de dezembro) culmina o processo.

Georges Ripley, século XV, alquimista inglês, fala das doze portas, relacionando o processo alquímico com as doze casas planetárias. Foi feito com uma grande fortuna graças, segundo ele, a que ele obtinha ouro por procedimentos alquímicos.

As doze portas são explicadas da seguinte forma:
-Decomposição por calcinação (Áries); regido por Marte; seu elemento é o Fogo.
-Decomposição por digestão (Leo)
-Decomposição por fermentação/putrefacção (Capricórnio); regido por Saturno; seu elemento é a Terra.
-Modificação por congelação/coagulação (Touro), regido pelo planeta Vênus; seu elemento é a Terra.
-Modificação por fixação (Gêmeos); seu elemento é o Ar.
-Modificação por ceração (Sagitário); regido por Júpiter; seu lemento é o Fogo.
- Separação por destilação (Virgem); seu elemento é a Terra.
- Separação por sublimação (Libra); regido por Vênus; seu elemento é o Ar.
- Separação por filtração (Escorpião); regido por Marte, seu elemento é a Água.
-União pela solução (Câncer)
-União pela multiplicação (Aquário); regido por Saturno; seu elemento é o Ar.
-União pela projeção (Peixes); regido por Júpiter; seu elemento é a Água.

Outros alquimistas relacionam o processo alquímico com as fases da Lua, de modo que na Lua Menguante começava a Nigredo ou início do processo; na Lua Nova começava a Albedo; na Lua em Quarto Crescente ocorreu a Rubedo; na Lua LLena o processo alquímico já tinha culminado com Transmutação do metal em ouro.

O Sol, regente de Leo, é o fogo, o agente da coagula, o elemento que realiza a digestão, que transforma a matéria-prima em uma nova substância.
A Lua, regente do câncer, é a água, o agente do solve, o elemento que realiza a dissolução, que reduz a matéria-prima ao Caos de onde surgirá a nova matéria. Dias de lua cheia são propícios para determinados processos. Isso tem uma base científica: o luar é monocromático; algumas reacções químicas têm de ser feitas com luz monocromática para que tenham sucesso.

Fogo e Água são os opostos / complementares, pois um não se entende sem o outro, com suas qualidades de Calor e Frio e suas ações de Solve e Coagula.


Miguel Giribets.

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