A MAÇONARIA e os PAPAS PIO IX, LEÃO XIII e JOÃO XXIII...

 

Entre o Mito e a História.
Hoje entramos em um labirinto onde a história se entrelaça com a lenda, onde os segredos das logias ancestrais colidem com as paredes da Santa Sé.

A pergunta que nos convoca é ousada: existiram papas maçons?
Três nomes ressoam neste debate:
Pio IX,
Leão XIII e
João XXIII.
Analisemos cada caso, desvendando teorias, desmontando mitos e reconhecendo que, sem documentos irrefutáveis, navegamos no mar da especulação e das lendas.

Começaremos pelo primeiro.

Pio IX (1846-1878):
O Papa do "Syllabus" e as Sombras da Juventude. No contexto histórico: Giovanni Maria Mastai Ferretti, Pio IX, foi um pontífice de contrastes: impulsionador do dogma da Imaculada Conceição (1854) e do Primeiro Concílio Vaticano (1870), mas também o último "Papa Rey", derrubado pela unificação italiana.
A teoria contada é a seguinte: Alguns círculos maçônicos do século XIX, especialmente na Itália, espalharam rumores de que, na sua juventude, Mastai teria simpatizado com sociedades secretas liberais, inclusive entrando em uma loja carbonária (precursora da maçonaria italiana). Estes grupos, inimigos do poder temporário papal, procuravam unificar a Itália sob um governo secular.
Mas, será verdade essa história...???
Curiosidades e contradições:
Durante seu exílio em Gaeta (1849), Pio IX condenou abertamente os revolucionários, muitos deles maçons. Sua encíclica "Quanta Cura" (1864), acompanhada do "Syllabus Errorum", denunciou o liberalismo e o naturalismo filosófico, princípios associados à maçonaria.
Por que a teoria persiste?
Pela sua inicial abertura reformista (amnistia a presos políticos em 1846), que alguns interpretaram como influência ilustrada.
Mas a verdade é que há falta de provas sobre o assunto: não há registros maçônicos nem cartas pessoais que o liguem. Os arquivos do Vaticano do seu tempo também não revelam tal ligação. No entanto, a destruição de documentos durante a queda dos Estados Pontifícios (1870) alimenta o mistério e a imaginação.

O segundo, o Papa Leão XIII (1878-1903): O Papa que condenou a Maçonaria.
Do lado de dentro?
Contexto histórico: Gioacchino Pecci, Leon XIII, é conhecido por sua encíclica "Humanum Genus" (1884), um ataque frontal à maçonaria, que acusou de conspirar contra a Igreja e promover uma "Nova Ordem" anticristã.
O paradoxo conspirativo de muitos: Ironicamente, lendas maçônicas afirmam que Pecci foi iniciado em uma loja durante sua juventude em Perugia, e até que sua escolha como papa foi orquestrada por maçons para "controlar" a Igreja.
Os detalhes mais intrigantes são:
Em 1885, o escritor maçônico Albert Pike soberano Grande Comendador do Rito Escocês nos EUA. Os EUA escreveu que Leon XIII conhecia "os verdadeiros mistérios" da ordem, sugerindo um jogo duplo.
Sua encíclica "Providentissimus Deus" (1893) promoveu o estudo científico da Bíblia, algo que alguns ligaram ao racionalismo maçônico da época.

A realidade documentária do fato é a seguinte:

A encíclica "Humanum Genus" é explícita: "A Maçonaria é o reinado de Satanás". Além disso, não há nenhum vestígio de iniciação nos arquivos de logias italianas, nem menções em seus diários pessoais. Por que surgiu o mito? Pelo seu estilo intelectual e diplomático, que contrastava com o antimodernismo de Pio IX.

Yvel terceiro caso a analisar é; João XXIII (1958–1963): O "Papa Bom" e o Espírito do Vaticano II.
O contexto histórico: Angelo Giuseppe Roncalli, Juan XXIII, convocou o Concílio Vaticano II (1962–1965), marcando uma virada para o diálogo com o mundo moderno.

Especula-se sua abertura e amizade com líderes políticos (incluindo alguns maçons declarados) levaram a rumores de que teria sido "influenciado" pela maçonaria.

Até se citam supostas frases suas, como: "A Igreja deve ser a casa de todos, não um museu".
Os fatos curiosos sobre os quais se envolve este mito são:

Em 1738, o Papa Clemente XII condenou a Maçonaria e até 1983, a pertença a logias implicava excomunhão automática.

João XXIII nunca revogou esta norma, mas seu estilo pastoral e sua encíclica "Pacem in Terris" (1963) que falava de fraternidade universal

- Não há provas de que Roncalli frequentou logias na juventude em Bérgamo ou durante o seu serviço diplomático na Bulgária ou França.
- Seu diário espiritual, publicado póstumamente, reflete uma fé tradicional, afastada do relativismo maçônico.
Isso nos leva a refletir:
Por que esses mitos persistem?
1. O poder do segredo: A natureza hermética da maçonaria e do Vaticano alimenta teorias. Que melhor cenário do que um papa infiltrado?

2. Projeção de conflitos históricos: A luta entre a Igreja e a Maçonaria (séculos XVIII–XIX) foi real. Em 1917, o Código de Direito Canônico proibiu os católicos de serem maçons, e em 1983, a Congregação para a Doutrina da Fé reafirmou a incompatibilidade, embora sem mencionar excomunhão.

3. O símbolo vs. a realidade: Figuras como João XXIII, que procuraram modernizar a Igreja, são facilmente reinterpretadas como "agentes" de uma mudança maçônica, apesar de não haver provas.

Conclusão:

Infelizmente, sem um documento oficial, uma carta de iniciação, um registro de logia ou uma confissão papal, essas teorias são castelos no ar.

Mas a sua persistência nos fala de algo mais profundo: o fascínio humano pelo oculto e o eterno debate entre fé e razão.

Será que esses papas "maçons" reflexo dos nossos próprios medos e esperanças perante o desconhecido?

A história, como sempre, fica em silêncio... e nós ficamos curiosos...

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